Márcio, Virgínia, Daniel, Laura e Adassa,
O que eu tenho para contar a vocês é o meu sonho. Eu diria o meu filho. Eu acabei de acordar, é sério. É muito estranho. Eu estou diante do computador. Tem uma caneca com leite muito gelado. Um pote com biscoitos de damasco sem açúcar e três passatempos (eu comi já um) recheados. Estou hipoglicêmico (acabei de medir a minha glicemia, sou diabético, deu 46). Ou seja, estou trêmulo e nervoso, porque não sei se consigo acreditar em tudo o que aconteceu em menos de cinco minutos. E seria bom que eu conseguisse acreditar, porque aconteceu.
Aos poucos escrevendo, eu acho que vou perdendo o incrível da coisa. Mas é que eu sonhei com a gente. E estar hipoglicêmico faz com que as coisas não se distinguam muito. Por isso a sensação de ainda estar sonhando. Eu acordei com essa frase na cabeça "Márcio, Virgínia, Daniel, Laura e Adassa, o que eu tenho para contar pra vocês é o meu filho". Caralho, e eu ali deitado pensando (gente, será que eu não vou errar os nomes. e os nomes de vocês vindo corretos, sem medo).
Gente, eu tô muito assustado. Não se assustem. Mas tive um sonho. Ou sei lá. Logo eu, que fui dormir para descansar a cabeça e esquecer um pouco do excesso de responsabilidades. Eu fiquei preso no sonho e tudo então parece ter feito sentido para a nossa ficção, para a nossa peça, para a nossa história. Não há erros. O que conto acabou de acontecer. Eu me assusto porque está durando e eu aqui já escrevi tudo isso sem me esquecer de nada.
O ventilador. Eu confesso, estava dormindo nu, sob o vento. E então (e isso acontece), o meu corpo vai me acordando quando está hipoglicêmico, como se quisesse se proteger e dizer (ei, vai acordando cara, você vai morrer se continuar dormindo, vai acordando...). E me acorda. Só que eu havia posto o celular para despertar às 23h, exatamente. Só que acordei e já são 00h18 da segunda-feira dia 14 de fevereiro de 2011 e nada do despertador ter tocado. Não há sinal de que tocou (eu não ouvi) e mexi ingenuamente nele e ele está apático, como se nada tivesse acontecido.
O tempo quis me enganar. Não tocou, não gritou. Nem fez nada. Por um segundo, no sonho, quando vocês me vieram, pareceu que tudo o que eu tinha sonhado era tudo o que eu tinha para contar a vocês, para dividir. Mas dai a lembrar o sonho de fato eu não vou conseguir. Estou aqui pensando, será que todo esse escândalo que eu estou fazendo é para nada, será que tudo isso foi dito enquanto pensava? Sim, de fato, agora me convenço rapidamente de que sim, foi pensamento e não simplesmente sonho. Mas,
e sempre haverá um "mas". Eu não posso negar a energia do meu corpo hipoglicêmico (e um pouco sem pâncreas) ao me agitar tudo isso para em seguida ainda me permitir fazer teoria sobre. Meu deus, me sinto um pouco Schreber. Que terror. Meu estômago dói. Eu vou parar. Eu estou assustando vocês. Enfim,
Durante a medição da glicemia, quando eu devo perfurar um dedo para que saia sangue, eu furei meus dedos seis vezes até que saísse sangue. Na quarta, eu pensei, será que vou ter que furar mais um dedo até dar cinco furos, um para cada ator? Na quinta, quando eu furei e não saiu nenhum sangue (como nas anteriores), eu pensei: bom, acho que estarei em cena novamente. Furei o dedo e saiu o sangue. Enfim, eu estava no auge da minha tremedeira. Não reparem.
Obrigado pelo encontro. Um lindo filho se anuncia adiante
e é nosso,
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Diogo Liberano