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terça-feira, 29 de março de 2011

não por causa do pai, nem da mãe, nem por ser transgressor

Seriam então máquinas dialógicas? Seriam máquinas dialéticas?


Boy with Machine, Richard Lindner 


"What a mistake to have ever said the id. Everywhere it is machines--real ones, not figurative ones: machines driving other machines, machines being driven by other machines, with all the necessary couplings and connections.... Hence we are all handymen: each with his little machines."
   

segunda-feira, 28 de março de 2011

ISTO

CENA 18
Eva bate à porta do quarto de Kevin, em seguida entra.
Eva – (com um disquete nas mãos) Eu queria lhe perguntar. O que é isso?
Kevin – Um vírus. (Animado) Você não o carregou, não é?
Eva – É claro que não. Quer dizer, acho que o carreguei só uma vez.
Kevin – Só precisa ser uma vez.
Eva – Por que você tem isso?
Kevin – Tenho uma coleção.
Eva – Não é uma coisa esquisita para se colecionar?
Kevin – Não gosto de selos.
Eva – Quantos você tem?
Kevin – Vinte e três.
Eva – Eles são... Difíceis de achar?
Kevin – São difíceis de capturar vivos. Eles escapolem e mordem. É preciso saber manejá-los. Sabe, como um médico. Que estuda doenças no laboratório, mas não quer adoecer.
Eva – Quer dizer que você tem que impedir que eles infectem seu próprio computador.
Kevin – É. O Brian Ferguson andou me ensinando as mutretas.
Eva – Já que você os coleciona, talvez possa me explicar: por que as pessoas criam vírus? Eu não entendo. Elas não ganham nada. Qual é o atrativo?
Kevin – Não entendi o que você não entende.
Eva – Compreendo que alguém penetre na rede da AT&T para telefonar de graça, ou roube códigos de cartões de crédito para fazer compras. Mas esse tipo de crime de computador... Ninguém se beneficia. Qual é a finalidade?
Kevin – É exatamente essa.
Eva – Continuo sem entender.
Kevin – Os vírus, eles são meio elegantes, sabe? Quase... Puros. É meio como... Uma obra de caridade, sacou? É um negócio altruísta.
Eva – Mas não é muito diferente de criar o vírus da AIDS.
Kevin – Vai ver que alguém o criou. Por que pode ter sido assim, não é?
Eva – Então, é isso... É quase para mostrar às outras pessoas que elas não o controlam. Para provar que você é capaz de fazer alguma coisa, mesmo que possa ser preso por isso.
Kevin – É, é por ai.
Eva (devolvendo-lhe o disquete) Acho que eu mereci.
Kevin – Sabe, se houver alguém de quem você não goste... E se você tiver o endereço eletrônico dessa pessoa... É só me dizer.
Eva (rindo) Tá legal. Farei isso, com certeza.
Kevin – Agora você tem amigos no submundo.

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Eu estou pensando nele. Não no ele Kevin, mas no enorme objeto não identificado. Objeto que tem nome corpo e forma mas que a tudo isso é avesso e capaz de se desapegar. A cena acima encerra em si todo o sentido deste espetáculo. Ela é o resumo concreto do caminho. É, é por ai. Estranho assim, completamente equivocado sim, talvez, é por ai, nesse lugar misterioso onde a coisa opera.

O que estamos construindo é estranho. Tem que ser. Não quero falar de estranhamento, eu quero falar daquilo que não sei, porque isso me faz olhar ao redor e de volta a mim mesmo com intensidade da criança. Isso me faz de fato ver quando estiver a olhar, me faz de fato sentir quando tiver entre os dentes a carne. Isto, disso que falo, Isto é a coisa em si. É o desejo primordial. É o imanente.

Sim, eu já me perdi de novo em especulações. Eu me perdi na poesia e não tô querendo me achar. Deixar o corpo vagando sem nome é tudo o que eu preciso nesse momento. Já sei que ele é enorme. Já sei de sua recusa à explicação e ao dicionário. Eu concordo, hoje, sim, talvez, as coisas tenham virado enciclopédia muito cedo.

Estranhar.
Divertir.
Brecht.

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Diogo Liberano

domingo, 27 de março de 2011

Encontro Dois

Café Doce Momento - Copacabana

- sensorialidade;
- responder ao fluxo;
- somos diferentes uns dos outros da mesma forma que somos iguais;
- corte é quando você interrompe um fluxo?;
- corte como registro;
- o corte é uma extração de fluxos;
- interpretar o mundo a partir de seu próprio fluxo;
- “entrar em contato”;
- Lavoisier (“nada se cria tudo se transforma”);
- automatismo, alienação,
- o enorme objeto não identificado é o corpo sem órgãos?;

- […]

sexta-feira, 25 de março de 2011

Sobre desejos

Escrever sobre o que eu desejo para este projeto de encenação é já discorrer sobre o projeto em si, não somente por desejá-lo, mas, sobretudo, porque é este o meu ponto de partida: o próprio desejo. O desejo enquanto potência que liberta e revoluciona, o desejo como qualidade inata do homem. Versar sobre o desejo é também, para mim, mover intuições e crer na possibilidade não unicamente do saber, mas também do se descobrir em jogo, em processo, em movimento e flerte com o mundo e seu entorno.

O tema me chegou no exato instante em que li na orelha do livro O Anti-Édipo, de Gilles Deleuze e Félix Guattari, algo como a expressão “potência revolucionária do desejo”. E eu estava justamente vivendo um momento no qual buscava maneiras para validar meus desejos e aceitá-los sem restrição. Eu pensando sobre como tornar um desejo algo estético, algo dramático, algo capaz de se estender de mim a você, de lhe ser também sensível e capaz de fazer doer. O desejo como ponte e não feito muro.

Num primeiro momento, O Anti-Édipo diz respeito a isso, a esse libertar e desbravar do desejo. Ao mesmo tempo, persiste na obra uma validação do utópico não como sonho, mas como possibilidade. Um olhar que não teme assegurar o impossível porque o impossível é ao lado de tudo só mais uma opção. Assim, da obra de Deleuze e Guattari, escolho apenas o capítulo inicial intitulado “As Máquinas Desejantes” por ser ele aquele que me descortinou a condição humana do ser que deseja. A partir desse capítulo, intenciono escrever uma dramaturgia em processo tendo os atores também como autores para seguirmos montando e desmontando convenções e descobrindo na complexidade da própria vida o real prazer de se estar vivo e operante.

Por agora, escolher escrever uma ficção faz com que eu parta em busca de temas e referências outras que me auxiliem e estimulem a construir esta dramaturgia. Eu vou contar uma história. Para além da forma, para além da crise do conteúdo e da linguagem, eu agora paro para te narrar uma fábula, um acontecimento dentro do qual as personagens espelham a vida. A nossa encenação, no final das contas, será um filtro capaz de transtornar a fidelidade deste espelho. Se distorce aumenta intensifica ou se desespera aquilo que vê, ainda é cedo para dizer.

Por fim, listo alguns dos temas que vêm se mostrando recorrentes desde o início dos estudos e a partir dos quais nossa dramaturgia será construída: criação, desejo, família, tragicidade e metalinguagem.

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Diogo Liberano
Exercício entregue na quinta-feira, 24 de março de 2011 para a disciplina PROJETO DE ENCENAÇÃO
   

quinta-feira, 24 de março de 2011

sábado, 19 de março de 2011

desejo amorfo

eu me provoco tanto quando começo um novo projeto. quando eu estou criando eu me vejo apontando para mim mesmo as armas mais poderosas. eu de fato me lanço em meio ao fogo e sem muitas chances de escapar. eu me faço o pior. talvez para não doer tanto quando alguém me fizer o pior. mas não é verdade. eu me lanço no pior porque o pior me chegou como nome e não feito toque. o pior me chegou pronto e quem sabe de fato o que é o pior? eu quero saber. eu não quero me privar.

este projeto nasce da necessidade extrema de contemplar desejos. de ir inteiro e direto rumo ao centro de cada furacão que nos rodeia e desorienta. é um projeto que visa a destruição do aprisionamento. um projeto que fala, não de liberdade, mas de tudo aquilo que vem quando a liberdade nós já temos. então, há um nível zero que precisa se estabelecer. é preciso estar livre, ser livre, para se permitir ser outra coisa que não sabemos ainda qual vai ser.

como eu disse anteriormente, as aulas começaram e eu aqui - ainda bem - começo a escrever mais e mais em virtude das exigências curriculares. para a próxima quinta estou estudando as referências. listando tudo e voltando lá nos inícios para ver o que talvez já esteja esquecido.

calma.

essa palavra resolve alguns minutos. porque eu me vejo indo sem freio e dessa vez eu me digo: calma. assim, sem exclamação. é só porque com a calma eu tenho tempo para ver as coisas acontecendo. sem tanto furor. olhar clínico e atencioso sobre as coisas. olhar paciente que vai direto, mas só depois de ter recebido. não há desespero, há comunhão. este projeto que não se sabe ainda o que será, reside bem na sua incompreensão. ele sabe que de incompreensão não há só a dele no mundo. ele sabe que incompreender é antes de tudo, sentido.

também para esta semana eu devo escrever um texto sobre os meus desejos em relação ao projeto. estou já aqui especulando que neste texto haverá o desejo, que se manifestará por meio de muitos outros, por meio de vários tipos e gêneros. há os de ordem estética, os de ordem ética, os de ordem curriculares, de ordem pessoal e os de ordem ficcional. há inúmeros e sem fim. mas eu devo encontrar todos eles olhando para trás e vendo o que já saiu de mim. listar os desejos para encontrar os temas.

encontrar os temas para especular a dramaturgia.

navegar é preciso.

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Diogo Liberano

quinta-feira, 17 de março de 2011

Projeto de Encenação

Durante esse primeiro semestre de 2011, estarei cursando a disciplina PROJETO DE ENCENAÇÃO, na qual o aluno deve elaborar o projeto da sua peça de formatura (ou algum outro). Evidentemente que trabalharei sobre O ANTI-ÉDIPO. A primeira aula é hoje e estou aqui juntando as peças para começar a estruturar as coisas.

Estou indo com ligeiro freio por sobre as coisas. Não estou excedendo as procuras e buscas, estou sendo mais paciente do que nunca. Justamente para aprender a lidar com o que brota, para perceber o tempo agindo e as coisas todas caminhando sem desespero. Eu sou muito desesperado. E quero, agora, calma. Condição para lidar junto ao tempo.

Naturalmente passarei para cá todas as questões que forem surgindo. Para hoje, para esta primeira aula, eu não sei o que teremos. Mas fico pensando onde foi que surgiu tudo isso. Creio ter sido com o Édipo. Com a percepção de como se faz drama e tragédia com aquilo que nem sempre precisa ser isso. Chama-me atenção desde sempre o livro de Deleuze e Guattari, por me abrir essa possibilidade, por me devolver a potência do desejo e questionar justamente a sua supressão. Além disso, o romance PRECISAMOS FALAR SOBRE O KEVIN, que durante muito tempo me serviu como um bom exemplo para tudo isso.

Bom, irei de peito aberto para o que ainda não sei. Volto até aqui depois.
  
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Diogo Liberano

sábado, 5 de março de 2011

PDD

Adassa saberá nos dizer sobre o que é o PDD.
Ele nos será de extrema importância.

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Diogo Liberano

motivo

algo que assegure a potência disto do qual estamos falando.
algo que me faça de fato compreender aquilo que esqueci (ou que me fizeram esquecer).
algo que não tenha medo de ser claro e preciso.
algo que diga ei você é assim, ser você é ser isso e ponto.
algo que dinamite a caixa.
algo que diga realmente pode ser qualquer coisa.
algo que me impulsione a tentar fazer algum sentido.
algo que me faça ir adiante só pelo ir.
algo enternecedor capaz de nos manter mais tempo quentes.
algo capaz de.
algo possível.
algo práxico.
[...]
motivo é o que não falta.
não quero solução.
quero ida dilatada
caminho em zoom in profundo
busca seta ida
rumo.

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Diogo Liberano