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domingo, 29 de maio de 2011

Encontro Quatro

Café Doce Momento
28/05/11 - De 16h30 até 20h
Diogo, Adassa, Andrêas, Márcio, Laura, Daniel, Thaís e Virgínia.

- não estudamos O ANTI-ÉDIPO
- agendamos para a próxima semana um encontro para estudo de metade do capítulo AS MÁQUINAS DESEJANTES
- conversamos sobre o conceitual do espetáculo, sobre especulações minhas acerca da dramaturgia (nas quais, alguns atores vislumbram alguma possível encenação)
- discutimos sobre o poema ALGO ASSIM, MELHOR DO QUE EU
- reina um meio-termo se se está falando de criação enquanto lógica familiar ou enquanto artística (ótimo não se resolver tal questão. não é uma questão, logo, não tem que ser resolvida)
- defendi a triangulação edipiana apenas visando ser ela a base para a construção de algo que dela saia
- falamos sobre esse ponto externo, esse ponto de fuga, que pode ser o SEXO (de acordo com Virgínia), mas que eu lanço tudo no saco da IMAGINAÇÃO, da poesia, ficção, metáfora e até SONHO
- esse ponto me permite sair de mim para voltar ao mesmo com outro olhar (VIVA!)
- lemos o poema, li a INTRODUÇÃO do projeto
- conversamos muito e tivemos um excelente encontro
- ao término, falando sobre a criação da dramaturgia (sobre o suporte dramatúrgico do blog), sorteamos para cada ator 12 postagens de meu blog pessoal
- tais postagens serão um material para uma abordagem futura *que não deve demorar muito a ocorrer
- um must!,
- falamos sobre a peça não vir-a-ser algo METALINGUÍSTICO
- sobre estar situada sobre uma relação familiar
- e sobre aquilo que não temos muito o que dizer,

sábado, 28 de maio de 2011

Análise das Máquinas > 03/06

CAPÍTULO 1
AS MÁQUINAS DESEJANTES

O gozo e o sujeito

Máquina Celibatária. A terceira síntese: síntese conjuntiva ou produção de consumo. Afinal... <

A produção de registro é produzida pela produção de produção. A produção de consumo (produzida pela produção de registro e na produção de registro) segue ao registro. Há na superfície de inscrição algo da ordem de um sujeito que nasce e renasce dos estados que ele próprio consome: “Afinal sou eu, afinal pertenço-me...”.

Toda a produção desejante é imediatamente consumo e destruição, logo “volúpia”. Tal como parte da libido como energia de produção se transformou em energia de registro (Numen), há uma parte desta que se transforma em energia de consumo (Voluptas). Esta energia residual anima a terceira síntese do inconsciente: a produção de consumo ou síntese conjuntiva do “afinal...”.

A repulsão do corpo sem órgãos às máquinas desejantes, tal como na máquina paranóica do recalcamento originário, deu lugar a uma atração na máquina miraculante. Mas entre atração e repulsão a oposição persiste fazendo necessária nova máquina à reconciliação (ao “retorno do recalcado”). Freud sublinha a viragem de Schreber que após sua transformação em mulher envereda para uma auto-cura que o leva à identidade Natureza = Produção (produção de uma humanidade nova).

Chamemos “máquina celibatária” a que sucede à paranóica e à miraculante. Como nova aliança entre as máquinas desejantes e o corpo sem órgãos. O sujeito é produzido como resto, ao lado das máquinas desejantes, ou ele próprio se confunde com esta terceira máquina e com a reconciliação residual que ela opera: síntese conjuntiva de consumo, sob a forma maravilhosa de um “Afinal era isto!”. A máquina celibatária manifesta um poder solar, um prazer auto-erótico onde se celebra uma nova aliança como se o erotismo maquinal libertasse outros poderes ilimitados.

Matéria, ovo e intensidades: sinto <<

O que se produz através da máquina celibatária? Quantidades intensivas em estado puro a um ponto quase insuportável (numa experiência esquizofrênica). Fala-se de alucinações e delírio, mas o alucinatório (vejo, ouço) e o delirante (penso...) pressupõem um Sinto mais profundo.

Estas intensidades vêm da repulsão e atração e da sua oposição. São positivas a partir da intensidade = 0 (que designa o CSO), produzindo uma série de elementos intensivos que exprimem um número ilimitado de estados estacionários por que passa um sujeito. Essas quantidades preenchem a matéria sem vazio em graus diversos.

O CSO é um ovo atravessado por eixos e limiares, latitudes, longitudes, geodésicas r gradientes que marcam transformações, passagens e destinos do que nele se desenvolve. Nada nele é representativo, tudo é vida e vivido. Experiência dilacerante, demasiado comovente, que torna o esquizo o ser mais próximo de um centro intenso e vivo da matéria.

Como foi possível dar ao esquizo a figura desse estado de um CSO morto? O esquizo (que se instala nesse ponto insuportável em que o espírito toca a matéria, e vive, consome cada uma das suas intensidades) foi reduzido pela psicanálise a um neurótico que consome eternamente o papá-mamã.

Os nomes da história <<<

O consumo de intensidades puras é estranho às figuras familiares. Podemos dizer que sobre o CSO os pontos de disjunção formam círculos de convergência em torno das máquinas desejantes; então o sujeito (produzido como resíduo ao lado da máquina, apêndice ou peça adjacente à máquina) passa por todos os estados do círculo e de um círculo ao outro.

O próprio sujeito não está no centro, ocupado pela máquina, mas nos contornos, sem identidade fixa. Ou mais complexo: através da máquina paranóica e da máquina miraculante, as proporções de repulsão e de atração sobre o CSO produzem na máquina celibatária uma série de estados a partir de 0; e o sujeito nasce e renasce (o estado vivido é o primeiro em relação ao sujeito que o vive).

O sujeito, cujo eu desertou do centro, estende-se por todo o contorno do círculo. No centro a máquina celibatária (do desejo) do eterno retorno. Não a identificação com pessoas, mas a identificação dos nomes da história com zonas de intensidade sobre o CSO; e o sujeito grita sempre “Afinal sou eu!”. Nunca ninguém fez tanta história como o esquizo que consome de uma só vez a história universal. Começamos por defini-lo como Homo natura, e ei-lo, agora, Homo historia.

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Diogo Liberano

sexta-feira, 20 de maio de 2011

“Descobertas, sonhos e desastres nos anos 60”

[…]

O AI5 fecha o pano, promovendo a diáspora do sonho de milhares de jovens, artistas e intelectuais.

Em 31 de março de 2004, 40 anos depois do golpe, o poeta Alex Polari, num seminário na Universidade federal do Rio de Janeiro, relê, saudosa e sem sinais de arrependimento o poema intitulado “A nova tática e o velho instinto”, escrito no cárcere em 1972 e publicado em 1979 no livro Inventário de Cicatrizes, pelo Comitê da Anistia. Diz o poema:  

Juro
não tem auto-crítica
que me tire
as saudades
de uns tiros

Março de 2004

> Trecho final do artigo de Heloisa Buarque de Hollanda. Para ler o artigo inteiro, clique aqui.

O "Se" Mágico

E se houvesse um grande problema no mundo.
E se a gente buscasse resolvê-lo.
Seria preciso criar
ou quebrar
alguma
coisa?

terça-feira, 17 de maio de 2011

memória

vasculho a memória para encontrar no passado onde foi que esse projeto brotou. é estranho (e sincero) como ele já estava aqui em mim faz anos. por isso vasculho a memória em busca dos inícios. aquelas datas sem dias, mas sobreviventes apenas nos sentidos, no que foi um dia arrepio.

e encontro. devo dizer. não fiz tanta força assim. a coisa que carrego dentro aos poucos revela-se mais e mais e daqui a pouco: é só nascer, de fato, feito parto, com várias mãos auxiliando o salto (de mim) ao mundo.

encontrei. lá em 2007. faz anos, não? encontrei dentro de uma livraria e não foi livro, foi intuição. foi frase dada sem motivo algum exceto a doação. eu disse eu prefiro ler árvores e escrever filhos. portanto, é sobre isso o que estamos fazendo. é sobre a potência da poesia salvar o real de sua auto-destruição.

e então vamos seguindo. não sei dizer mais. mentira, eu sei, mas não importa. importa seguir confiante nesta ilusão. é crente nela, eu havia dito, que faremos construção.

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Diogo Liberano

domingo, 8 de maio de 2011

tentativa zero um

PROJETO EXPERIMENTAL EM TEATRO
de Diogo Liberano

A satisfação do “bricoleur” quando consegue ligar qualquer coisa à corrente elétrica, quando consegue desviar uma conduta de água, não poderia ser explicada pelo jogo “papá-mamã” nem pelo prazer da transgressão[1].

Apresentação ou Aquilo que solicita atenção em mim

É chegado o momento da formatura. E ao contrário do previsto, eis que o aluno a redigir este projeto sente-se imensamente despreparado para tal ato. Talvez porque tenha vasculhado os anos de faculdade a procura de uma dramaturgia capaz de abarcar seu universo de questões e não tenha encontrado. Talvez porque tenha adaptado inúmeros romances e desistido de todos. Talvez por ter escrito dezenas de sinopses geniais e sem nenhuma ação. Talvez porque nada lhe afete mais – neste momento – do que o próprio momento no qual torna-se irrefutável a criação de sua pequena obra de conclusão.

Tudo bem, isso faz parte da criação, ele dirá a si mesmo. Esse momento de conclusão não seria muito diferente do que está sendo, pois o que ele aprendeu até agora foi apenas a dúvida, o saber-reciclável e as certezas-de-curta-duração. Para além do seu saber, o aluno apreendeu sempre um ruído imenso dentro do peito dizendo mais do que os seis anos de graduação. Uma intuição amorfa que cresceu dentro e virou peste. Assim, com certo tempo, é o artista também algum lampejo de sua obra. É sua obra também certa confissão de seu íntimo lacrado e febril.

Seria, então, esta peça de formatura a expressão nua e crua de sua própria criação? É cedo para dizer. Porque este projeto nasce e morre a cada dia. E isso já faz meses. Este projeto incontido dentro do criador quer outros meios para tornar reais suas rimas. É pura poesia que corre o risco de passar despercebida. É jóia rara carente por lapidação. Matéria bruta e improdutiva clamando por tradução. Monstro alado à procura de cavaleiro capaz de domá-lo. Ou seja: tem tudo para dar errado.

Pode ser que estas palavras até agora tenham conseguido mover um sorriso ou que tenham irritado toda uma tradição. É que nesta pré-apresentação (nome este que ele acabou de reconhecer), o autor se permitiu escrever apenas sobre aquilo cuja nomenclatura ele não pode oferecer. Logo adiante, será preciso esclarecer exatamente o que possa ser esta encenação. E mesmo que para isso ele precise mentir, a fim de conseguir sua aprovação, caro leitor, ele o fará. Porque ao mentir para ti, ele cria também para si a ilusão que alimentará todo o seu sonho, até que este possa, enfim, vir a ter contigo.

No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida[2].

Apresentação ou Aquilo que solicita atenção em mim (novamente)

É chegado o momento da formatura. E, desta vez, o aluno-diretor é também o autor da sua própria ficção. Mais que isso: ele deseja com sua peça de formatura investir numa dramaturgia colaborativa a ser escrita em processo de ensaios. Para a construção de sua pequena obra de conclusão eis que ele escolhe como tema-mote a própria criação.

Como trabalho de conclusão do curso de Direção Teatral da UFRJ, eu desejo investigar os meandros dramáticos de um processo de criação artística. Uma ficção cujo tema é justamente o criar. O que move uma criação? O que a alimenta? O que atravanca um processo criacional e o que o faz decolar? São questões que se colocam não por se querer respondê-las, mas unicamente porque falar delas me lança de imediato para dentro da própria vida (e o teatro é mesmo um bom veículo para reconexão com o real).

Falar de criação para rememorar minha formação, para pensar sobre meios modos e maneiras de se tocar numa obra, para relembrar diálogos travados dificuldades e pequenas descobertas no meio de todos os ensaios. Para se ver concluindo a infância e se despedindo de casa. Para olhar em direção ao pai e dar adeus, pois é preciso partir.

Saio então desta Universidade como alguém criado e por ela alimentado. Saio atrevido e ousado, potente e capaz. Saio feliz e estremecido porque se despedir de casa é se reconhecer em risco. Sorte a minha que o risco é mesmo o que traça a minha criação. Portanto, tendo aqui a criação como tema, intenciono dinamitar esta palavra para convertê-la em poesia e ação. Para convertê-la em dramaturgia textual e cênica. Para criar com um elenco de seis atores a ficção que ainda não desembrulhamos (mas que persiste em nós despedaçada).

Este projeto parte, então, do meu desejo em ficcionalizar a criação. O meu esforço é o de construir uma obra que não existiu para, por meio dela, firmar aquilo tudo que me parece essencial existir. Uma ficção não como aquilo inexistente, mas como aquilo que pulsa clamando por corpo e voz.

 


[1] O ANTI-ÉDIPO.
[2] “ANIVERSÁRIO” - FERNANDO PESSOA.

o PONTO de virada

se você me encontrar pela rua, por favor, eu lhe peço, me pare e pergunte sobre o que é sua peça de formatura? eu vou amar passar várias dezenas de minutos falando a você sobre tudo aquilo que ainda não sei. mas, eu confesso, é indo investido nisso, nessa mentira, nessa ilusão, nesse sonho, nesse jogo, que muito do que será se anuncia a partir de então. e eu vou dizer da poesia, eu vou dizer do que a minha profissão fez comigo, com a minha vida, eu vou marejar o olhar e vou me revelar alguém feliz por ser alguém perdido. mas isso é só o começo, eu nem comecei a falar das cores, dos sons, dos sustos, do drama nem do figurino. é tão vasto, é tão poderoso, que pensar nos atores é um pouco mais do que o permitido para esta noite...

portanto, caso me encontres, num dia desses, andando apressado, com mochila nas costas, música nos ouvidos e sonhos nos olhos, eu te peço - me pare! - e diga > sobre o que é essa sua peça de formatura?

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Lendo árvores e escrevendo filhos

Uma nova árvore.
Longa e nova,
Inteiramente nova.
Cheia de linhas
Percalços
Texturas
E
Descobertas.

Árvore velha,
Sempre nova
Para mim.
Sábia e esbelta.
Árvore sedutora
Que me encanta
E me inquieta.

Olho a nova árvore,
Todos os dias.
Outras me chamam a atenção
Outras se jogam rumo ao chão,
- As descabidas -,
mas eu contemplo
a árvore certa.

Toco-a,
comovo-me com
seus cheiros.
Para os outros,
passageiros.
Para mim,
Sempre cheiros
Fraternos,
Ternos e
Eternos.

Lendo as árvores,
Porque me lançam
aos céus,
ainda que feitas
de papel.

Lançam-me ao mar.
Ainda que não feitas
Para molhar,
Lançam-me ao mar,
Com direito de
Volta,
Mas não sem antes
uma queimadura da
água-viva-morta,
Mas não sem
Um olhar fatal do
peixe-espada-de-papel-também.

Elas que me lançam ao altar,
De onde eu posso contemplar
Outros estados.
De onde eu posso
Afastar. Me.

No altar, encontro os meios
De fazer do pequeno que virá
Algo melhor de quem trepado
Nas árvores
Está.

Algo assim,
Melhor do que eu.

A morte da metáfora

O contato com as reflexões e escritos de Antonin Artaud acentuam o quanto o material base da obra de arte diz respeito justamente a sua impossibilidade. E é precisamente na angústia criacional de algum impossível que se vislumbra o nascimento de algo capaz de dominar a instabilidade de um tempo.

O encontro com o presente parece ser, de fato, o único embate real de um artista. Com Artaud, a busca pela necessidade do teatro se estende também à busca pela necessidade da própria vida. Por meio de escritos metafóricos, como fosse poesia a teorizar sobre a experiência teatral, ele evoca a potência de um teatro que parece adormecido, que parece ter se esquecido de sua força. Por meio de uma escrita instigante e cheia de sons e imagens, ele nos prega certa busca pelo descobrimento do que é necessário, decretando fim ao adorno ou a qualquer outro enfeite capaz de amenizar alguma incongruência do real. 

Pois, para manter a sua metáfora viva, é a vida que deve estar mais pulsante do que nunca. Entre a palavra e a coisa, é preciso haver respiração e não somente algum sentido. Não quer dizer dar fim à metáfora. É justamente o contrário, pois com Artaud o mistério – o não–saber – ainda é precioso e necessário. Não quer dizer pôr fim aos sentidos figurados e às comparações inúmeras entre diferentes termos. Quer dizer apenas que para além de tornar algum sentido inteligível, é preciso antes torná-lo sensível. A metáfora morre quando o referencial “vida” se esgota. Mas, me sugere Artaud, o campo poético da encenação teatral é capaz de agir como uma espécie de desfibrilador sobre a realidade, acordando-a de súbito, superando-a em força e delicadeza. 

Artaud nos devolve, assim, a possibilidade da vida no rigor de sua instabilidade e do seu movimento e descortina uma resposta possível ao dilema de Hamlet. Já não se trata mais de cindir o homem em ser sido ou não sido. Ora, por que dividir o homem ao meio se dentro dele, em seu íntimo, já se é tudo isso, ao mesmo tempo? O ser, o não-ser e entre os dois um abismo que costura tudo e nos mantém de pé. Somos filhos da linguagem e não há possibilidade de encerrá-la porque tal fim se estenderia também a nós. O que nos resta é tão somente o que já está dado: o ser linguagem... E a nossa possibilidade – escolha – de reinventá-la. 

Esta curta reflexão me veio para visualizar como a linguagem da poética teatral vem se firmando e quebrando, sempre com intuito de se tornar novamente capaz de nos devolver um dado tempo a si próprio. A qual tempo eu pertenço agora? E o meu teatro? E o nosso?

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Diogo Liberano