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sexta-feira, 11 de novembro de 2011

(in)ação física

se a ação não vai mudar nada ela é ainda assim uma ação?

pergunta boba. talvez seja. mas eu fiquei com a imagem de eva com a cadeira erguida. eva com a faca erguida. a cadeira é a faca? não. a cadeira é a cadeira. o desejo dela é aquele ali, daquele tamanho, naquela imediatez. ela diz ao frank isso não é uma faca. e não é. é uma cadeira. mas ele completa que para pessoas ambiciosas como ela, aquilo ali é mais arma do que outra coisa (do que cadeira ou talher). ela sobrevive ali, sob o peso de seu abuso, sob o peso de sua ambição. ela grita baixo (é possível) o nome do marido, mas ele já se foi. calçou os sapatos e partiu.

então resta moira e corley na inação mais agitada do espetáculo. cinto de segurança all the time. todos que passam por moira vão ter que contê-la. moira quer se erguer, quer gritar, quer morrer. não que ela não soubesse. não que ela não fosse prever (a morte do filho). mas é só que agora virou coisa concreta. a repórter mexeu no corpo do filho dela. a repórter anunciou tudo e tudo diz respeito a algo tão íntimo, tão familiar, mas que agora está completamente avassalado.

o cinto de segurança em moira é o mesmo cinto que falta a kevin, quando ele está sobre a cadeira tremendo o íntimo e expressando o seu pavor, a sua ira, o seu ódio a tudo aquilo. kevin está puto (ainda bem que célia dorme). como nunca antes ele está pegando fogo. injustiça: eles não podem fazer isso com a gente. comigo. eles não podem. e o pior, kev, é que eles sempre podem. os pais podem tudo. infelizmente eles acham que podem. e vão arruinar o destino de tudo. a não ser que o destino arruine tudo antes do que viria.

kevin treme sobre a cadeira. ele treme a cadeira. sua ação inação acontece plena e não quer ser linda. é só para esquentar o corpo e começar a dar o texto. quer dizer, agitar o íntimo, a pele, a temperatura para cuspir as palavras com um ódio genuíno e legítimo. kevin tem razão. ele bola os planos mais absurdos para se convencer de que será possível fazer tudo voltar ao normal.

ele acredita nisso. ele tem que acreditar. ele se move para dentro de seu quarto. ele se retira do mundo um segundo para poder voltar ao mesmo, porém, mais fortalecido.

quando ele volta, porém, é tarde.

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