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segunda-feira, 25 de junho de 2012

“Como eu faço pra ser isso? Como fazer pra ser alguma coisa diferente do que eu sou?”

Penso que essas duas perguntas, indagadas pela personagem Kevin de Sinfonia Sonho sejam para mim as mais pertinentes. Afinal, como repensar um teatro, a começar pela dramaturgia baseada em fatos reais, sem torná-lo clichê ou enfadonho? Creio que vivemos tempos em que é preciso ser inovador sem demasiada poluição estética. Creio também que metade do sucesso de um espetáculo está em seu texto. Para mim se a dramaturgia não agradar, nada salvará o espetáculo, que em seu resultado final não passará apenas de uma tentativa.

Claro que o que nos é dado de presente em Sinfonia Sonho é um grato contexto de acertos, não apenas pelo resultado final que engessa o espectador na cadeira do teatro com a exposição de fatos tão “agressivamente singelos”, mas pela sintonia entre os envolvidos, a troca de energias entre atores e o jogo estabelecido recheado de equivalências, tirando o trivial de nossas mãos e nos mostrando o novo.

O texto que fala sobre duas famílias que evidentemente tem conflitos bem pertinentes traz a mim mais que uma história sobre perdas. É uma análise de nós mesmos mediante ao cotidiano. Sobre como a solidão está presente nas personagens. Em como seus conflitos permeiam a existência ou/ e principalmente a falta dela. O espetáculo também me faz lembrar que a inteligência subestimada das crianças de hoje coloca-nos numa posição frágil beirando a impotência sobre o futuro.

Penso no espetáculo como um sonho cinematográfico – Ou seria cinematograficamente onírico? – De todas as formas possíveis me chama a atenção a cena em que Kevin dorme e sonha e de repente toda a disposição do palco me leva aos meus próprios sonhos, cheios de improbabilidades que fazem todo o sentido enquanto acontecem.

Me é fortemente sobressalente a questão imagética proposta. Não vejo as cadeiras dispostas no cenário como mero material cênico. Cada objeto traz de certo modo consigo a própria personalidade de cada personagem a qual pertence, exceto por Thomas que será para sempre avulso e porque não dizer etéreo.

Obviamente que a beleza e profundidade das cenas deixou marcadas na minha memória impressões tão positivas que me instigou a conhecer mais sobre “os bastidores”, nem que fosse apenas os relatos dos envolvidos.

Admito que fiquei surpresa a priori quando soube que o Teatro Inominável é um grupo novo formado por jovens artistas recém saídos de suas graduações em teatro (independentemente das direcionadas funções). Não que esse fato inferiorize a relevância de cada membro, cada pesquisa e/ou cada descoberta. Pelo contrário. Creio que me fez entender e admirar mais todo o contexto do grupo que resultou na sinfonia mais conflitante que já vi. Pois há o brio de quem se lança ao novo. De novas diretrizes, caminhos ainda por serem descobertos. Sintonia e verdade. Todos os movimentos justificados, a descrição sobre um processo de criação colaborativo aonde todos trazem tanto de si que (embora pareça contraditório) vê-se apenas as personagens criadas prontas para o “abate cênico”.

Penso ser esse o objetivo do verdadeiro teatro. Inquietar o expectador. Instigar sua curiosidade. Torná-lo outro. Unindo ambos (arte de quem cria e a arte de quem aprecia) e formando um todo. Mudando o infinito particular que faz de nós, meros seres humanos, possibilidades tão ricas.

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Por Bruna Caroline Tavares

Graduanda em Produção Cênica da Universidade Federal do Paraná (UFPR)