Penso que essas duas perguntas, indagadas pela personagem Kevin de Sinfonia Sonho sejam para mim as mais pertinentes. Afinal, como repensar um teatro, a começar pela dramaturgia baseada em fatos reais, sem torná-lo clichê ou enfadonho? Creio que vivemos tempos em que é preciso ser inovador sem demasiada poluição estética. Creio também que metade do sucesso de um espetáculo está em seu texto. Para mim se a dramaturgia não agradar, nada salvará o espetáculo, que em seu resultado final não passará apenas de uma tentativa.
Claro que o que nos é dado de presente em Sinfonia Sonho é um grato contexto de acertos, não apenas pelo resultado final que engessa o espectador na cadeira do teatro com a exposição de fatos tão “agressivamente singelos”, mas pela sintonia entre os envolvidos, a troca de energias entre atores e o jogo estabelecido recheado de equivalências, tirando o trivial de nossas mãos e nos mostrando o novo.
O texto que fala sobre duas famílias que evidentemente tem conflitos bem pertinentes traz a mim mais que uma história sobre perdas. É uma análise de nós mesmos mediante ao cotidiano. Sobre como a solidão está presente nas personagens. Em como seus conflitos permeiam a existência ou/ e principalmente a falta dela. O espetáculo também me faz lembrar que a inteligência subestimada das crianças de hoje coloca-nos numa posição frágil beirando a impotência sobre o futuro.
Penso no espetáculo como um sonho cinematográfico – Ou seria cinematograficamente onírico? – De todas as formas possíveis me chama a atenção a cena em que Kevin dorme e sonha e de repente toda a disposição do palco me leva aos meus próprios sonhos, cheios de improbabilidades que fazem todo o sentido enquanto acontecem.
Me é fortemente sobressalente a questão imagética proposta. Não vejo as cadeiras dispostas no cenário como mero material cênico. Cada objeto traz de certo modo consigo a própria personalidade de cada personagem a qual pertence, exceto por Thomas que será para sempre avulso e porque não dizer etéreo.
Obviamente que a beleza e profundidade das cenas deixou marcadas na minha memória impressões tão positivas que me instigou a conhecer mais sobre “os bastidores”, nem que fosse apenas os relatos dos envolvidos.
Admito que fiquei surpresa a priori quando soube que o Teatro Inominável é um grupo novo formado por jovens artistas recém saídos de suas graduações em teatro (independentemente das direcionadas funções). Não que esse fato inferiorize a relevância de cada membro, cada pesquisa e/ou cada descoberta. Pelo contrário. Creio que me fez entender e admirar mais todo o contexto do grupo que resultou na sinfonia mais conflitante que já vi. Pois há o brio de quem se lança ao novo. De novas diretrizes, caminhos ainda por serem descobertos. Sintonia e verdade. Todos os movimentos justificados, a descrição sobre um processo de criação colaborativo aonde todos trazem tanto de si que (embora pareça contraditório) vê-se apenas as personagens criadas prontas para o “abate cênico”.
Penso ser esse o objetivo do verdadeiro teatro. Inquietar o expectador. Instigar sua curiosidade. Torná-lo outro. Unindo ambos (arte de quem cria e a arte de quem aprecia) e formando um todo. Mudando o infinito particular que faz de nós, meros seres humanos, possibilidades tão ricas.
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Por Bruna Caroline Tavares
Graduanda em Produção Cênica da Universidade Federal do Paraná (UFPR)