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sexta-feira, 25 de março de 2011

Sobre desejos

Escrever sobre o que eu desejo para este projeto de encenação é já discorrer sobre o projeto em si, não somente por desejá-lo, mas, sobretudo, porque é este o meu ponto de partida: o próprio desejo. O desejo enquanto potência que liberta e revoluciona, o desejo como qualidade inata do homem. Versar sobre o desejo é também, para mim, mover intuições e crer na possibilidade não unicamente do saber, mas também do se descobrir em jogo, em processo, em movimento e flerte com o mundo e seu entorno.

O tema me chegou no exato instante em que li na orelha do livro O Anti-Édipo, de Gilles Deleuze e Félix Guattari, algo como a expressão “potência revolucionária do desejo”. E eu estava justamente vivendo um momento no qual buscava maneiras para validar meus desejos e aceitá-los sem restrição. Eu pensando sobre como tornar um desejo algo estético, algo dramático, algo capaz de se estender de mim a você, de lhe ser também sensível e capaz de fazer doer. O desejo como ponte e não feito muro.

Num primeiro momento, O Anti-Édipo diz respeito a isso, a esse libertar e desbravar do desejo. Ao mesmo tempo, persiste na obra uma validação do utópico não como sonho, mas como possibilidade. Um olhar que não teme assegurar o impossível porque o impossível é ao lado de tudo só mais uma opção. Assim, da obra de Deleuze e Guattari, escolho apenas o capítulo inicial intitulado “As Máquinas Desejantes” por ser ele aquele que me descortinou a condição humana do ser que deseja. A partir desse capítulo, intenciono escrever uma dramaturgia em processo tendo os atores também como autores para seguirmos montando e desmontando convenções e descobrindo na complexidade da própria vida o real prazer de se estar vivo e operante.

Por agora, escolher escrever uma ficção faz com que eu parta em busca de temas e referências outras que me auxiliem e estimulem a construir esta dramaturgia. Eu vou contar uma história. Para além da forma, para além da crise do conteúdo e da linguagem, eu agora paro para te narrar uma fábula, um acontecimento dentro do qual as personagens espelham a vida. A nossa encenação, no final das contas, será um filtro capaz de transtornar a fidelidade deste espelho. Se distorce aumenta intensifica ou se desespera aquilo que vê, ainda é cedo para dizer.

Por fim, listo alguns dos temas que vêm se mostrando recorrentes desde o início dos estudos e a partir dos quais nossa dramaturgia será construída: criação, desejo, família, tragicidade e metalinguagem.

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Diogo Liberano
Exercício entregue na quinta-feira, 24 de março de 2011 para a disciplina PROJETO DE ENCENAÇÃO