como perscrutar o invisível?
creio que o primeiro dia de oficina foi, ao mesmo tempo em que a busca pelo nome, a tentativa de se desvencilhar dele. afinal, o que pode haver num nome tão pomposo como NEGOCIAÇÃO INVISÍVEL? muita coisa.
o encontro de hoje me fez pensar sobre a tentativa - sobre a experiência - enquanto ferramenta trituradora dos clichês. sabe aquele mesmo gesto? aquela mesma vontade? aquele mesmo jeito de olhar e de condenar? pois então, quando convidados ao jogo - basta alguns minutos para ver cair por terra tudo e mais um pouco: as certezas, as rudezas - a falta de tato quando dança muito tempo fica nua e incontida. o jogo destrói as barreiras que a gente, por vezes, nem sabia que tinha.
mas sempre tem.
poesia pra lá e poesia pra cá. eu não saberia dizer de outra forma o que foi este encontro. mas vou tentar. reside no impossível a única busca que faz sentido (sem fazer). como definir o que escapa à definição?
foi um encontro curto (e longo). nesta quarta-feira 24 de outubro de 2012, de 15h30 às 19h. começamos um pouco depois do início e terminamos um pouco depois do fim. nos detivemos hoje nas discussões e práticas a partir da técnica viewpoints. algo óbvio, já dado, mas confesso: eu precisava compartilhar com novas pessoas - outras pessoas - o meu clichê sobre este fato. a minha forma viciada de ver a coisa e, nisso, eu vi, foi possível me atualizar e atualizar o outro (eu acho).
o ponto de vista - o view point - está na vista, não no bolso. não podemos sacá-lo para fora, como se fazem com as chaves e com os isqueiros. não tem matéria, tem afeto. atenção. tensão destinada ao fora (e ao dentro). perscrutação. vigília. talvez seja isso: brincar de viewpoints nada mais é do que se ver mais fundo. de fazer germinar o olhar. de dotar o tempo de cuidado. dar tempo ao ponto solto no espaço (e fazê-lo explodir, se multiplicar. da forma como se transmutam migalhas de pão em estrelas).
está no olho. não só no corpo. é jogo da consciência. esperteza cênica. presencial. jogo para estar. para entrar, sair, pular, correr, ficar. deixar restar.
muita discussão sobre a famosa resposta kinestética. afinal, como traduzir a KINESTHETIC RESPONSE? não quer dizer CINESTÉSICA. nem quer dizer SINESTÉSICA. apesar de que ambas traduções parecem fazer sentido, pois nos levam à ideia de movimento e de sentido (sensação). porém, a resposta correta é mesmo a relativa à KINESFERA. kinesfera é um conceito apresentado (?) por rudolf laban, coreógrafo e dançarino austro-húngaro, que diz respeito à esfera que delimita o limite natural do espaço pessoal, no entorno do corpo que se move.
outro aspecto importante da discussão sobre RESPOSTA KINESTÉTICA foi o equilíbrio - e escolha - entre o estado esquizofrênico de resposta aos estímulos externos e a possibilidade de seleção, de responder apenas ao que se escolhe responder. discutimos sobre os viewpoints de forma a entendê-los como um rol de ferramentas que tornam a presença do performer realmente mais sincera (presente, viva, ativa... não saberia dizer).
por fim, lançamo-nos um desafio: trabalhar nos próximos dois últimos dias de oficina sobre a criação de uma cena, uma composição coletiva a ser erguida a partir de um texto que escrevi (a partir das ideias iniciais do próximo espetáculo do teatro inominável, CONCRETO ARMADO).
tudo será registrado neste blog.
a cada participante da oficina foi também entregue uma cópia do texto TERROR, DESORIENTAÇÃO E DIFICULDADE, de anne bogart, texto que havia traduzido em 2010 durante o processo de VAZIO É O QUE NÃO FALTA, MIRANDA.
amanhã tem mais. ainda bem.
participam da oficina: amina muniz + anna clara carvalho + arthur rozas + beta borges + bruno marcos + davi palmeira + eduardo cardoso + fabíola buzim + fabíola ribeiro + felipe marcondes + jéssica barbosa + rafael dellamora + tháis barros + júnior vieira,
além de diogo liberano, adassa martins e gunnar borges.
não custa informar: assim como nossa temporada de SINFONIA SONHO, esta oficina está sendo viabilizada pelo financiamento atingido no site Catarse!
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