segundo dia de oficina. 25 de outubro de 2012, de 15h30 às 19h no teatro
gláucio gill.
trabalho sobre composições criadas a partir das curtas cenas que
integram a dramaturgia que eu havia entregado ontem. aproveitei para levar
impressa a tradução que havia feito da descrição dos viewpoints por anne bogart
e tina landau.
fizemos uma leitura apenas. da dramaturgia. compartilhei com eles a
maneira pela qual me interessa pensar a dramaturgia - menos como texto e mais
como fio que costura a atenção do espectador - dramaturgia enquanto guia da
fruição do espectador. sobre quais lugares desejamos que o espectador pare e
reflita? em quais lugares queremos que o espectador caia?
jogo constante e intenso de sedução, de aproximação e afastamento.
comunicação. talvez. comunicação.
afinal, cria-se para si ou para o outro? melhor: cria-se para quem?
durante uma hora - cada dupla, trio ou mesmo atuantes sozinhos estiveram em
plena criação. soltos pelos diferentes espaços do teatro, cada grupo tentou dar
conta de uma lista que eu havia preparado para cada uma das dez composições
(estas listas, porém, foram espalhadas no chão e cada grupo escolheu a sua, tornando ainda mais aleatória a coisa toda). listas com
"exigências" preparadas previamente por mim. menos exigência e mais
limite. limite no sentido que estamos usando: algo contra o qual vale à pena se
chocar. chocar-se contra os limites para encontrar liberdade não de maneira
fácil, mas de maneira conquistada. achar brechas, vias, ruelas, ruídos e
espaços dentro dos quais se possa sobreviver.
curioso - liberdade ou limite? até que ponto ser rigoroso com os limites
vindos de fora? até que ponto se permitir escolher tudo? eis um aspecto
importante da negociação que me faz lembrar o elogio da profanação de giorgio agamben. fico sempre
intrigado com a possibilidade de trucidar as referências para fazer uso do seu
sumo. sabe? tornar algo de fato útil é profaná-lo. é dar uso ao que costuma ser
útil apenas para separar. sem separação. colado. profanar é um esforço
desmedido para aproximar, para tirar dos altares, para quebrar hierarquias. é
um ótimo exercício para promover o encontro.
as composições exploraram diferentes espaços (mesmo se concentrando na maioria
das vezes no palco). o texto - que surpresa! - ganhando outra batida e cor na
boca/corpo destes novos parceiros.
o que mais me chama atenção é para onde se leva a atenção de quem nos assiste.
nós, atuantes, somos de fato donos do destino de quem nos mira. não no sentido
hierárquico da dominação. somos donos do destino porque junto ao público nos
movemos costurando narrativas. dessa forma, me intriga a expressão atorial
quando esta perde sua função comunicativa e exibe, em seu lugar, apenas
expressão. quero dizer: para quê? para quem? se faz ação e movimento?
cria-se, quase, um contraponto entre expressão e comunicação. afinal,
importa expressar ou trazer à tona aquilo que se deseja expressar. confuso.
questões imprecisas, duvidosas, mas existentes. bem reais. quero dizer: se eu
faço tal gesto, configuro meu corpo para expressar algo, algum estado ou
sensação, mas a quem o destino? faço chegar esse estado? essa sensação? é
preciso destinar a alguém e se assegurar de que a coisa chega?
ao me transformar no palco - ao ser puro afeto - com que intuito o faço?
o que desejo transformar?
após criadas as composições, assistimos uma a uma. eu fui prevendo a
possibilidade de união. e aqui entramos em contato com um dos movimentos mais
importantes do processo de sinfonia sonho, que é o conceito de bricolagem e a
forma como nos utilizamos do mesmo. presente na primeira página de as máquinas
desejantes (capítulo inicial d' o antiedipo de deleuze e guattari) --- por
bricolagem entendo o jogo de costura de partes distintas, diferentes, um jogo
de costura sem intenção prévia que não a do jogo, simplesmente. brincadeira
infantil de juntar, de fazer encontro - independente daquilo que venha a ser
construído. independente do sentido,
nesse sentido, parece curioso não premeditar o encontro. parece
interessante se deixar ser assaltado pelo ineditismo do encontro (das cenas,
dos corpos, das linguagens que nascem de súbito num processo de criação). para
que, exatamente, querer domar o instável? o instável é lindo quando dança.
portanto para o último dia de oficina restou a tarefa de juntarmos num
mesmo tempo-espaço as composições. de forma que apresentaremos o saldo deste
encontro como fosse um corpo só. uno. unificado. erguido e cosido a muitas
mãos. como tem que ser.
já já mais informações.
participam da oficina: amina muniz + anna clara carvalho + beta borges +
bruno marcos + davi palmeira + eduardo cardoso + fabíola buzim + fabíola
ribeiro + felipe marcondes + jéssica barbosa + rafael dellamora + júnior vieira
+ natássia vello + alexandre david
além de diogo liberano, adassa martins e gunnar borges.
não custa informar: assim como nossa temporada de sinfonia sonho, esta
oficina está sendo viabilizada pelo financiamento atingido no site catarse!
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