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terça-feira, 23 de novembro de 2010

fuga (do textocentrismo)


sem querer eu me vejo fugindo do texto. não porque queira evitá-lo ou porque artaud e seu teatro da crueldade me fizeram querer tentar outro tipo de palavra, de texto. não é isso. eu neste momento estou fugindo do texto porque não o tenho ainda. e porque também não estou a buscá-lo. assim, eu diria, é natural parecer que estou fugindo. é natural fazer parecer que não estou nem ai para um texto, dramaturgia ou punhado de palavras.

e indo assim nesse sentido, tenho redescoberto alguma necessidade real. tenho pensado no que há no texto que me seja essencial e que me faça querer tê-lo de novo outra vez. ao mesmo tempo (é terrível, eu sinto) todo o texto feito de palavras pode ser pelo corpo reescrito. são línguas diferentes que podem dizer a mesma coisa. variam-se os meios. será mesmo? ainda duvido.

faz uma ou mais semanas que não leio O ANTI-ÉDIPO. estou correndo com outro projeto do teatro inominável e acabei dando um pause. engraçado, porque no artigo que publiquei anteriormente (do carlos diegues e que havia sido pescado para esta outra peça do inominável), o autor faz referência a édipo, num ponto preciso que faz a melhor tradução até agora do O ANTI-ÉDIPO para termos concretos.

ele diz que se não tivessem contado a édipo que sua mãe é jocasta, eles teriam vivido felizes para sempre. remonto ao primeiro período da faculdade quando descobria que o conhecimento é capaz de levar ao sofrimento. era essa a coisa dos trágicos. o saber. o quanto o saber poderia trazer certo júbilo e inevitável tristeza. estamos falando então da necessidade de ser ignorante? não. parece simples demais. mas existe alguma coisa ai que me sugere algo ainda nem de perto vislumbrado.

a ignorância possui em si certa sabedoria que nós, seres do saber, não soubemos ainda desvendar. talvez porque sua imagem - e nome - nos afastem demasiadamente rápido.

enfim, ao invés de palavras tenho pensado em imagens. há alguma necessidade minha por concretude. esse nome está me tragando e tudo então passa a lhe fazer referência. imagino dois, três atores em cena. e o que os costura é a sua capacidade de ser concreto, de intervir um no respirar do outro e de instaurar o desespero ou a salvação. eles - os atores - sendo concretos, sendo inteiros e certeiros. menos espaços para especulações e sim, dessa vez, mais verdades. ser verdade não quer dizer deter razão. ser verdade dentro de um contexto específico onde se crê veementemente naquilo que se diz e faz. ainda que não se tenha crença, de fato (o ator sendo o personagem).

não quero por agora falar de ator e personagem. quero falar da agonia que me toma ao ler freud teorizando a vida de schreber. quero falar da agonia que freud me dá quando vem dar sentido único à poesia de uma vida. quando vem dar nome-doença às idiossincrasias. freud está me enojando. e a seu despeito, creio mais em metáforas do que em diagnósticos.

talvez por isso esteja pensado mais em imagens do que em palavras. mais em atores do quem em textos.

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Diogo Liberano