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sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

irriquieto

oh, mais uma vez tudo mudou. mas mudou para algo que não se sabe ainda o que é. algo o qual não sei se será possível saber. algo que me sugere um abrir-se sem fim e constante, sem tentativa de formatação, sem possibilidade de contorno. mais uma vez, é um convite à perdição. e a crença nisso, a crença de que é possível estar aqui não para ser, mas para estar.

tudo mudou, tudo mudou. não quero mais o tal romance. meu deus, não o quero mais. como pode? depois de tanto trabalho em adaptá-lo a única coisa da qual me orgulho é o saber abandonar. é ter aprendido de vez que é preciso saber abandonar. não posso cair nessas armadilhas bobas e que acabam destruindo um projeto. eu escolhi um romance da mesma forma que o abandono. é que eu sei, no final das contas, eu intuo, que ele sempre estará comigo.

a questão que se coloca agora é a percepção deste projeto como um verdadeiro processo colaborativo de construção dramática. não é meramente uma dramaturgia que será alinhavada com os atores, durante os ensaios. é maior. é tudo. um processo no qual eu junto aos atores teceremos as palavras e teceremos seu corpo. é uma construção de texto e de encenação. é uma construção total, se assim posso dizer.

não quer dizer que tudo será responsabilidade de todos. jamais. eu sou o diretor do espetáculo, sou o dramaturgo. eu estou ali junto alinhavando nossos cruzamentos e tecendo alguma coisa que ainda não sei o que é. mas, os atores vão jogando, vão trazendo, levando, criando, mexendo, errando, testando, tentando. há um rumo, um tiro, uma seta, talvez algum alvo. porém, quero que exista, sobretudo, um meio do caminho. meio no qual a gente possa se reconhecer como quem somos. aqueles capazes de brincar com sentidos.

alguns temas ficam depois de tantas mudanças: família, criação, representação, crise, tragédia, tragicidade. talvez eu nunca mais vou conseguir me abster da metalinguagem. não importa. decidi abrir o jogo com meus atores e revelar a eles este nada trepidante sobre o qual repouso inquieto. podemos ser o que quisermos. e então? o que seremos? seremos alguma coisa? fingiremos? o que fazer então? foi nos dada uma oportunidade... eu queria ver se você estivesse no meu lugar o que você diria.

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Diogo Liberano