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segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

sinapses nervosas.

palavras esquentadas mas sinceras. desequilibradas mas sintomáticas. um dia de mim saíram e aqui eu as lanço. feito pedaços de reflexões sobre o isto. estou livre do seu peso. agora mais livre ainda do seu sentido.

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O que eu vislumbro? É o meu projeto final dentro do curso de Direção Teatral da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Como minha formatura, eu gostaria de poder exercer minha função de encenador com mais precisão e detalhe. Eu realmente gostaria de me ver dominando mais as ferramentas e estruturas, eu gostaria de ter controle. Isso se revela para mim como um desafio, porque ao invés de criar a partir de um material sobre o qual eu tenha controle, o que me parece mais frutífero é justamente – e mais uma vez – me lançar sobre algo incapaz de ser domado. Algo livre por si só e que vá me oferecer muitas dificuldades. Sim, talvez ai resida a minha burrice, o meu ato ingênuo mais ingênuo de todos. É preciso pensar se eu devo de novo e novamente intencionar novas dificuldades ou escolher algo mais simples do que o que sempre escolho. Não sei. Sinceramente. Acho que a coisa de ter controle e domínio sobre as ferramentas é algo incapaz de ser desenhado e, ao mesmo tempo, algo incapaz de ser contornado. Diz respeito ao modo pelo qual eu sou. É claro? Eu estou amadurecendo nisso de ser um diretor teatral, então é inevitável que certas questões se desmanchem e em seu lugar novos dragões apareçam. Eu cismei com dragões.

No blog deste projeto experimental em teatro (esse é o nome da disciplina que prevê a montagem final do aluno de direção teatral), intitulado O Anti-Édipo¸ eu parto da obra homônima de Félix Guattari e Gilles Deleuze para tentar olhar para o mundo novamente. Para pensar a partir da potência revolucionária que é o desejo. Isso diz respeito ao meu ato de criação – completamente vinculado aos meus desejos (dos mais ingênuos aos mais absurdos – eu quero os contemplar!). Parto desta obra para vingar meus desejos e vontades e para libertar as potencialidades adormecidas ao redor e dentro de mim. Num primeiro momento, O Anti-Édipo diz respeito a isso, a esse libertar e desbravar do desejo (preso dentro da psicanálise e lá assassinado). Ao mesmo tempo, em mim e nesta obra sobrevive um desejo que valida o utópico não como sonho, mas como possibilidade. Um olhar que não teme assegurar o impossível porque o impossível é dentre tudo só mais uma possibilidade. E via encenação, o impossível é recreio, é diversão. Eu, por meio de O Anti-Édipo, encontro estímulo para seguir apostando em intuições, para seguir desmontando convenções e descobrindo na complexidade nata da minha vida – e na dos outros – o real prazer de se estar vivo e operante. É uma aposta na dificuldade, mas para seguir adiante. É difícil sim, mas quem disse que não seria?
Não tenho ainda dramaturgia. A obra de Deleuze e Guatarri não me oferece fábula e dessa vez, pela primeira talvez, eu queria uma historinha. Eu queria não falar de teatro nem ser metalinguístico. Eu queria conseguir usar o exemplo e nele te fazer crer. Eu queria estar vivo e pulsante dentro da ficção não-alienante que eu e meus atores teremos que tecer. É pedir demais? Talvez seja. Pois que assim seja, então. Não há como retroceder.

De tudo o que realizei neste curso, o que mais ouvi foi sobre a necessidade de realizar uma peça clássica, uma encenação clássica, algo com início meio e fim. Estou desbravando por mim mesmo o que possa ser isso. Para mim, uma encenação clássica diz respeito ao trabalho do encenador em tridimensionalizar aquela fábula ali pelo dramaturgo tecida. Diz respeito ao trabalho de construir tais personagens, de ajustar suas movimentações e tornar crível aquela história, ainda que minha opinião sobre ela seja outra que não aquela do dramaturgo. Parece ser bem simples. Eu entendo exatamente o que me solicitam. Mas não sou muito crente nisso.

Meus trabalhos nascem do meu encontro com este tempo do agora. Disso eu não vou abrir mão e talvez ai resida a minha ignorância maior. Tudo bem, eu a banco, sem penar por isso. Banco com prazer a insistência nos meus dias e nas minhas horas. Eu estou aqui e agora e meu trabalho também aqui comigo está. Ele nasce da dificuldade em chamar de vida isso que vivo. Ele, o meu trabalho, nasce desse embate real com a sua impossibilidade, com a sua inadequação ao dia-a-dia. Ele não quer ser modelo, não quer ser aceito, ele quer ser o que é e nisso, descobrir como existir. Portanto, em partes, a tal da encenação clássica não vai funcionar. Não vai funcionar. E eu chego agora à conclusão de que não me formarei como prezam os clássicos.

Mas, eu acho que aprendi como escutar. Sim. Não posso negar meus defeitos e jamais negaria minhas virtudes. E tenho ambos, em quantidade. Posso dizer que aquilo que fica dessa exigência pelo clássico seja justamente a coisa da fábula. Eu vou contar uma história. Para além da forma, para além da crise do conteúdo e da linguagem, eu agora paro para te narrar uma fábula, um acontecimento dentro do qual as personagens espelham a vida. Só não sabemos, porém, com que grau de fidelidade este espelho opera. Se distorce, se aumenta, se intensifica ou se desespera o que vê...

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Diogo Liberano