eu quero dizer, eu sonhei. acho que foi sonho. sabe quando você acorda e há algo te puxando a atenção, algo que você não sabe bem o que é e que chega a ti pela metade, meio que cifrado, meio que encantadoramente misterioso? pois então, quase sempre é uma imagem tornada real em sonho. e você amanhece assim louco querendo saber de onde veio tanta intensidade. é que eu fiquei em sonho entre. eu acordei com essa sensação. havia um pacto aqui entre quem nos via. e o chão era incapaz de ser furado. e o céu era incapaz de ser atingido. estávamos assumidamente neste espaço sem fundo nem teto. para além de chão e tetos, estávamos concretos ali naquela planície, naquele platô. naquele palco, ou na bandeja, beckett. sim, sendo oferecidos como janta e sobremesa para todos os que ali quisessem nos ver, consumir. resumo: nada abaixo, nada acima. tudo ali entre a gente acontecendo, uma ânsia profunda para perfurar o chão e para voar. mas não. calma. vamos com calma. para onde eu iria? me parece agradável ali permanecer, desde que frisando que há o chão, que há o teto e que há entre os dois todos nós. ansiosos ou não para perfurar e voar. ansiosos ou até mesmo capazes de ali durar. eu não sei se foi sonho. ou se eu estava acordado. não é nada demais. é uma intuição, mais com forma do que todas até então.
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Diogo Liberano