Neste dia não ouvi o despertador. Acordei de susto, de estômago embrulhado, de pesadelo talvez...
Não tomei café, os meninos já estavam prontos, estávamos atrasados, eu estava atrasado... eu que levo eles pra escola... entramos na escola e eu não reparei a ausência do moço da portaria... a escola estava silenciosa, um silêncio... aí vimos o primeiro corpo, e outro, e outro... as crianças mortas, umas agonizando... e o que antes me parecia silêncio tornou-se uma sinfonia funesta de choro de criança, choro de criança morta, choro de pai de criança morta, sirene de carro de polícia, a voz esganiçada da repórter e minha esposa a urrar de dor...
Célia chorava e gritava muito, e Kevin parecia não estar ali... estava como que absorto, a olhar o vazio...
Peguei os dois no colo e levei pra casa... Eles acabaram dormindo de tanto choro e dor e terror.
Liguei a tv pra ver as notícias do massacre... Eva demorou muito pra vir pra casa, e eu acabei adormecendo tb. É tudo que eu me lembro deste dia. E tudo o que eu quero esquecer.
VP: Gesto