nunca havia feito isso: redescobrir como se estuda. dessa vez não tem jeito, ou você persiste sobre o problema ou fica cego surdo e mudo. ou vai perdendo a escuta o tato até tornar tudo impossível. por isso, é preciso mudar a pedagogia, mudar a forma de se abrir o livro e ir com calma, não querendo ler o todo, mas amando ser pedaço e às vezes sabendo se orgulhar da ceia-linha.
deleuze e guattari estão me fazendo processar o mundo. em todas as acepções possíveis. e incrível, sinceramente, não há esforço meu para perceber como aquilo que eles sugerem é plenamente possível/legível. parece que leio e que encaixa, o mundo se encaixa ainda quando é do meu referencial de onde eu tiro os parâmetros para fazer viva toda a sua teoria. é incrível. está sendo. ir decupando o pensamento e repetindo, repetindo, falando aos amigos (quase sempre tudo ainda bem torto), mas ir se testando porta-voz de algo que já te capturou, logo ali, nos inícios.
sobretudo, perceber no seu passado indícios disso que agora se efetiva. perceber por outro viés o porquê de suas escolhas, por qual motivo se eternizou em ti certa vez certa rima. por agora e durante um certo tempo eu quero me perder lendo o meu mundo. não meu aqui comigo preso, mas este no qual eu sou, aqui no onde existo, neste quando que me des(orienta). este espetáculo só pode ser se for presente. não há outra possibilidade, não há previsão, tudo está para ser. e neste momento, para mim, primeiro é treinar a captura. treinar como dialogar com este mundo, treinar como especular sua possível cura.
para então ir tentando. ir buscando maneiras e formas. depois só se trata disso. de buscar a forma para este precipício mútuo. ah, isso é tão bom. e essas palavras não possuem nelas nada desse suspiro. essas palavras não possuem nelas o poder dessa revolução que aqui me esquenta. portanto, deixe-me aqui ficar dizendo o indizível, porque isso não reduz em nada a sua potência.
seguir decupando. não como quem classifica, não como quem cataloga. apenas como quem recebe o mundo por partes, esperando a hora de fazer com tais partes o seu arranjo, o seu mosaico, a sua arte.
curioso, ganhei de aniversário, recentemente, um quebra cabeças de 270 peças do quadro O GRITO de edvard munch. tenho agora a sensação de que essa peça diz respeito ao processo de feitura deste quadro. tenho a sensação muito sedutora de que começo a montar, peça a peça, o meu grito para com este redor. do qual, sou parte. parte, porém, inflamada.
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Diogo Liberano
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Diogo Liberano