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sexta-feira, 29 de outubro de 2010

fragmentos

tudo parece me levar ao despedaçamento. parece não restar linha e somente traços, riscos soltos, pedaços curtos feito vetores, setas, raios. mas eu queria justamente o contrário. ainda que não saiba como onde nem com quem. ainda que somente especule porquês, eu queria uma linha narrativa. sim, uma linha narrativa. eu queria me testar numa contação desta história. acho que é preciso. tenho uma tendência imensa em ser pedaço, em ser partido, por que não agora o contrário? por que não pegar esse dissipar no colo e mostrá-lo ao mundo sob outra configuração? ter uma linha narrativa não quer dizer ter solução. tudo ainda poderá estar partido. tudo ainda poderá não ter solução.

então venho eu soltando pedaços de coisas. estava jantando faz uns dias e pensei num primeiro ator. para o quê? não sei. não sei mesmo. mas pensei num ator. num ser daqueles que me despertam extrema curiosidade em se lidar com. sabe? em estar junto ali tentando o mundo. colocando o mundo em tentação. sim. ele é muito bom. e depois, no dia seguinte, encontrei-me com uma atriz que me chamou de novo a atenção. sim, por que não? eu sou tão aleatório porque também aleatório é o coração. é cafona, eu sei, é sincero. eu não ligo muito para certas coisas.

e a semana correndo eu pouco li. O ANTI-ÉDIPO oscila aqui comigo. dei agora para pular páginas e ler pedaços soltos, injúrias à freud e seus sucedâneos. eu no meio de um arsenal de leituras tentando seguir por onde me parece importante - ou nem tanto - seguir. eu pensando sem me deixar alarmar demais: de onde sairá essa historinha que você disse querer contar? de onde? é só o que sei perguntar. mas pergunto sem interrogação. pergunto a cada hora que leio um trecho do que já poderia em si ser uma primeira opção. e então segunda e nesse fluxo, já tenho "n" dramaturgias possíveis. sem nem mesmo saber se quero escrever este texto, já que virei - inevitavelmente - a escrever esta encenação.

pensando muito sobre encenação e pós-encenação. sobre este encontro/embate entre encenador e texto. pensando sobre o meu tempo e aquele outro. pensando sobre função. sobre psicologia reversa. pensando sobre andre antoine. pensando sobre diálogo. ainda sobre revelação. ainda mais sobre est-ética. pensando, enfim. como quem pensa não para saber, mas para estar presente. vivo. aqui. no agora.

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Diogo Liberano