hoje passei o domingo por conta de nossa peça. escrevi várias cenas e também o texto que cada aluno-diretor escreve para a revista da mostra de teatro da ufrj.
esse projeto de fato ainda está começando. com a nossa estreia em novembro – estreia dentro da ufrj – percebo o quanto muito ficará por ser descoberto, descortinado. precisamos de algum tempo depois de tantos ensaios.
muito a pensar. eu saindo de um processo super intenso de criação dramatúrgica. como cavalgar um dragão demorou muitos meses para ser escrito. só neste domingo escrevi três cenas de sinfonia sonho. não escrevo isso para fazermos comparações. são espetáculos muito distintos. o que eu estou me exigindo é conseguir escrever o melhor para cada ator. escrever com clareza e potência essa trajetória que cada um haverá de percorrer.
é uma história triste esta que vamos contar. não é tranquila, nem sadia, nem para corações fracos. é a passionalidade inúmeros graus acima. aliás, hoje a janaina dorea (aluna-jornalista da escola de comunicação da ufrj, responsável por escrever suas “impressões” sobre nosso espetáculo) me enviou algumas perguntas por e-mail. lanço abaixo as respostas que dei. elas talvez nos ajudem a chegar mais perto de alguma coisa que por enquanto ainda recebe o nome de mistério:
1- De uma forma geral, que mensagem que você deseja passar com esta peça?
NÃO SOU MUITO FÃ DE PASSAR MENSAGENS. NÃO TENHO ESSA OBRIGAÇÃO ENQUANTO DIRETOR TEATRAL. CREIO QUE "SINFONIA SONHO" APRESENTE UMA SITUAÇÃO MULTIFACETADA, ALGUNS ESTADOS E SENSAÇÕES MUITO CONCENTRADAS, COM UMA SATURAÇÃO MUITO ACENTUADA. CREIO QUE O ESPETÁCULO, AINDA EM CONSTRUÇÃO, VENHA A TOCAR NOS EXTREMOS. TALVEZ, OLHANDO POR ESTE PONTO DE VISTA, A PEÇA TEMATIZE ALGUNS LUGARES EXTREMOS COMO A VIOLÊNCIA A CRIANÇA, LUGARES EXTREMOS COMO SÃO OS PRÓPRIOS EXTREMOS. É MUITO DIFÍCIL APOSTAR NO QUE ESTAMOS DIZENDO COM UM ESPETÁCULO. É UM ORGANISMO SENSÍVEL. CADA ESPECTADOR LÊ O MESMO DE UMA FORMA. NÃO QUERO DIZER QUE HÁ ALGUMA COISA A SER LIDA. QUERO SABER O QUE FOI QUE VOCÊ LEU AO ASSISTIR O ESPETÁCULO.
2 - Que tipo de impacto você deseja causar nos espectadores (se é que você tem esse desejo)?
TALVEZ EU TENHA SIM ALGUM DESEJO EM CAUSAR IMPACTO AO ESPECTADOR. NÃO QUE EU SAIBA ME JUSTIFICAR POR ISSO, MAS EU CREIO QUE A EXPERIÊNCIA TEATRAL SEJA UM TIRO DIRECIONADO A MIM MESMO E A QUEM ASSISTE A ENCENAÇÃO. NÃO É ALGO TRANQUILO, NÃO É ALGO QUE - EU CREIO - POSSA SAIR DE MIM COM TRANQUILIDADE E AGILIDADE. GOSTO DE PENSAR QUE É UM TIRO PORQUE ATRAVESSA E DEIXA MARCAS. TALVEZ EU QUEIRA QUE O ESPECTADOR POSSA SE PERGUNTAR AQUILO QUE SUAS RESPOSTAS JÁ TENHAM SILENCIADO. ADORARIA QUE O ESPETÁCULO PUDESSE TRAZER A TONA O QUE JÁ FOI RESOLVIDO, JUSTAMENTE POR INTUIR QUE CERTOS LUGARES COMUNS E RESOLVIDOS NÃO RESOLVERAM NADA, APENAS SILENCIARAM SUA COMPLEXIDADE. É MUITO AMBICIOSO FALAR SOBRE O QUE GOSTARIA DE CAUSAR, SOBRE IMPACTOS E AFINS. MAS, SE EU CONSEGUIR JUNTO AOS ATORES E A EQUIPE MANTER VOCÊ PRESO NO CORRER DOS MINUTOS QUE COMPÕEM NOSSA PEÇA: ENTÃO, ESTAREI MAIS PERTO DE ALGUMA COISA.
3 - As personagens da peça e os dramas que elas vivem se assemelham com o de pessoas comuns, com as quais convivemos diariamente?
NÃO. ESTAS PERSONAGENS VIVEM DRAMAS QUE, EU PODERIA DIZER, EXTRAPOLAM ALGUMA MEDIDA MAIS PLAUSÍVEL. NÃO QUER DIZER QUE AQUILO QUE ELAS VIVEM NÃO FAZ SENTIDO, É FALSO. NÃO É ISSO. QUER DIZER APENAS QUE O SEU SENTIR VEM NUMA MEDIDA QUE NOS SOA, PARA NÓS ESPECTADORES, ALGO MAIOR, ALÉM, OVER, FORA DA MEDIDA. ESSA É UMA CARACTERÍSTICA QUE APOSTO TAMBÉM COMO DRAMATURGO. ACREDITO QUE ESSA INTENSIFICAÇÃO NOS DISTANCIA DE ALGUMA FORMA DE TAIS PERSONAGENS. ISSO AS COLOCA NOUTRO LUGAR QUE NÃO O NOSSO. E O NOSSO ENCONTRO - DOS ESPECTADORES - COM TAIS PERSONAGENS VIRÁ POR CONTA DAQUILO QUE SENTIMOS. PODEMOS SENTIR TERROR E PIEDADE DE TAIS PERSONAGENS. POR ISSO SEUS DRAMAS PARECEM TÃO MAIORES. NO FINAL DAS CONTAS, ESTOU FALANDO DE DRAMAS MUITO HUMANOS, ELEVADOS, PORÉM, A UMA POTÊNCIA DESCONHECIDA, ARTIFICIAL, INVENTADA.
4 - Como se deu a escolhas dos atores? Já os conhecia de outros trabalhos?
DOIS ATORES (ADASSA MARTINS E DAN MARINS) FAZEM PARTE DO TEATRO INOMINÁVEL. COMPANHIA CRIADA DENTRO DA UFRJ, COM O PRIMEIRO ESPETÁCULO CURRICULAR QUE DIRIGI AQUI DENTRO. OS OUTROS SÃO CONVIDADOS. AMIGOS DE LONGA DATA QUE SEMPRE TIVE INTERESSE EM DIRIGIR. ELES VIERAM ANTES DA PEÇA, CABE PONTUAR. CONVIDEI OS ATORES. E ENTÃO, MEIO QUE JUNTOS, NUM JOGO DE TROCA E AFETAÇÃO, FOMOS DESCOBRINDO A HISTÓRIA QUE GOSTARÍAMOS DE CONTAR.
5 - Qual foi a importância da opinião dos atores para a criação do texto final?
O NOSSO PROJETO COMEÇOU COM UM CAPÍTULO DE UM TRATADO FILOSÓFICO. O LIVRO "O ANTI-ÉDIPO" DE GILLES DELEUZE E FÉLIX GUATARRI FOI O NOSSO PONTO DE PARTIDA. DURANTE O PRIMEIRO SEMESTRE DO ANO, FIZEMOS ENCONTROS PERIÓDICOS PARA DISCUTIR ALGUNS CONCEITOS E ESTREITARMOS ALGUMAS APOSTAS, IDEIAS, INTUIÇÕES. AOS POUCOS, FUI CONVERTENDO NOSSAS CONVERSAS EM PERSONAGENS, DRAMAS, SITUAÇÕES, CONFLITOS... NÃO POSSO DIZER QUE A PEÇA QUE APRESENTAMOS NESSA MOSTRA TENHA SIDO UMA CRIAÇÃO COLABORATIVA PORQUE NÃO TIVEMOS TEMPO PARA ISSO. NO ENTANTO, FOI ESCRITA PARA ESSES ATORES E ATRIZES. FOI FEITA POR CONTA DE TUDO O QUE CONVERSAMOS E TROCAMOS DURANTE ESTE ANO. É DELES, ENFIM.
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