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quarta-feira, 1 de junho de 2011

APRESENTAÇÃO. Dramaturgia: o processo.

 

O teor da próxima esquina, da próxima cena, próxima página, é sempre algo incapaz de se prever, de dizer, de desenhar, de assegurar a você. Por isso aleautorizamos o que vier. Pelo diferente nós tentaremos assegurar não aquilo que é, mas aquilo que possa ser.

Trecho de Autoria do Aleatório ou...

Plantar o livro para ver nascer ficção. O que este projeto de formatura deseja é dar corpo às metáforas. Trocar realidade por teatralidade. Ou, investir numa realidade que possa transcender à teatralidade: realidade outra na qual eu, espectador, me vejo sendo movido e talhado, realidade na qual eu me veja sendo refeito e aprimorado. Ou, ao menos, realidade contra a qual eu exija de mim alguma auto-análise. Certa auscultação.

Tem a ver com validar a poesia dentro do dia-a-dia. Mas não como quem valida para reconhecer seu valor e, sim, como quem o faz por necessitar. Logo ali, justamente no espaço onde ela nasce. Como tornar possível o que é da ordem do absurdo? Como dar corpo e voz ao não-plausível? Mais do que tornar possível, como tornar tudo isso um meio pelo qual eu seja capaz de purgar meu drama íntimo enquanto ser?

Deleuze e Guatarri nos brindam com a poesia da esquizofrenia, libertando sua potência ao invés de (re)colocá-la dentro do quadro patológico que a enclausurava. Corpos colonizados, vozes emudecidas, tudo o que é capaz de dilacerar nós aprendemos a chamar por nome tal que não falamos, pois contamina. O esquizofrênico que se usa de outros suportes que não somente o real, no entanto, a ele atado, agoniza e amarelece.

Estou falando, no entanto, de vida e ficção. Abarcar um esquizofrênico no dia-a-dia é outra questão. Mas que talvez não seja tão distinta do fazer artístico. Afinal, é o mesmo princípio: o treinamento da tolerância. Até que ponto toleramos o que nos difere? Talvez a intolerância tenha sido a resposta frente a tudo aquilo que desconhecemos. Ao medo respondemos com violência. Mas, por que não – salve a poesia – com amor?

Em O ANTI-ÉDIPO, a filosofia se potencializa por meio de certa poesia (como nos escritos de Antonin Artaud, eu sugiro). Ao propor outro tipo de relação familiar, os autores ultrapassam a somatização triangular edipiana (pai, mãe e eu) e criam um ponto de fuga que reside justamente na imaginação. É escapando para este ponto, sugere-se, que a realidade (familiar) pode ser revista e, nisso, reinventada.

Assim, neste projeto, escaparemos para este espaço onírico e sem definição prévia. Vamos fazer da imaginação o nosso principal campo de atuação. Faremos da encenação nosso sonho coletivo. E do blog LENDO ÁRVORES E ESCREVENDO FILHOS, retiraremos os principais estímulos para construção dramatúrgica: motes, personagens, metáforas, rimas, mentiras, verdades, relatos e tentativas (completadas ou não).

É criando ponto de fuga ao triângulo edipiano, é dando-lhe tridimensionalidade, que fazemos do triângulo uma pirâmide triangular. Acima das figuras pai filho e mãe, acima de sua relação, encontramos a ficção como potência para um reinventar-se. Este projeto quer, então, plantar o livro neste terreno da casa para ver nascer dele outra coisa que não mais palavras apenas.

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