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quinta-feira, 23 de junho de 2011

Inferência

Recentemente eu entendi o porquê da minha ligeira (e evidente) irritação com as tais referências. Hoje em dia, sobretudo dentro de um universo universitário (mais não somente nele), o trabalho com referências no momento da criação de um projeto é algo extremamente importante. Quer dizer: ao esboçar ideias e desejos junto ao seu projeto, é natural que também se queira saber quais outras obras atiram numa direção que a sua também parece (querer) atirar.

Dessa forma, antes mesmo de saber o que se quer, você já consegue reunir numa listinha aqueles filmes, quadros, livros, materiais diversos que conseguem (sob algum ponto de vista) dar uma espécie de tom ou teor daquela sua obra que ainda não passa de um projeto, por vezes, de uma intuição.

Certo. Isso é importante. Te faz buscar aquilo que você não tem mas que precisa encontrar. Ao mesmo tempo, te clareia, pela análise de obras distintas, aquilo que você busca por vezes sem saber ao certo o que é. Em suma, o trabalho com referências serve para clarear aquilo que se deseja.

No entanto, tenho estado incomodado com tal movimento. Tenho cansado rápido das referências e meu desinteresse sobre elas está cada vez maior. Tenho pensado como as referências por vezes parecem antecipar o meu contato com a coisa. Tenho pensado como é importante não saber aquilo que virá, como é importante eu estar preso somente no meu não-saber exato sobre o que estou buscando.

Assim, viram as referências neblina nessa busca. E eu fico com a vista cansada. E eu começo a me perguntar se interessa mesmo saber o que foi que fulano achou sobre isto que eu estou fazendo agora (e que pode, ali na frente, ser o mesmo que trocentos outros já descobriram), mas não é questão de originalidade. A questão aqui em jogo é justamente a de se permitir se encontrar com seu desejo e dar a ele (e a si próprio) a possibilidade real do encontro (sem muitas interferências).

Quer dizer: eu posso ser um ignorante sobre ÉDIPO REI de Sófocles, mas nada me importa mais neste instante do que o meu encontro com a obra. Do que o contágio mútuo que um ao outro é capaz de provocar. Eu não ligo se a minha opinião é velha ou pouco original ou fora de moda. Eu me importo apenas que ela seja sincera e deseje de mim se despregar.

Cada vez mais as referências me cansam e pode ser que elas venham a fazer sentido sim, porém, só lá na frente, quando aquilo ainda frágil aqui comigo venha a se fortalecer e a se manifestar.

Não é indiferença. É apenas cuidado. Depois de nove meses, a gente vê o resultado.
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