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domingo, 2 de janeiro de 2011

vários tempos num só.

encontrei uma proposta interessante para esta adaptação do romance. no original, o passado da personagem-narradora vai sendo contado a partir de comentários feitos no momento em que ela conta, no presente, digamos assim. para além disso, há alguns acontecimentos do presente, que ela narra mal tenham acabado de acontecer. ou seja, há dois tempos: o do passado (no qual acontece quase toda a história de sua vida) e o presente (aquele dos encontros com seu filho).

o que estou estruturando para esta dramaturgia é algo parecido. estou produzindo a dramaturgia de alguns acontecimentos que julgo determinantes (já são 38 páginas escritas). acontecimentos do passado que serão mostrados ali, no aqui e agora da encenação teatral. no entanto, são acontecimentos passados, que já foram, porque no meio de tais, eis que acontecem as cenas no presente, aquelas nas quais a mãe e o filho se encontram. de certa forma, essas cenas se tornam o presente e tornam o resto passado porque todas as cenas do passado parecem levar as do presente.

são nos encontros entre mãe e filho que todo o resto parece fazer sentido.

está confuso? tudo que é revelado - ainda que de maneira dialogada, como se ali estivesse acontecendo pela primeira vez - na verdade faz referência a um fato que vai acontecer e que, nas cenas presenciais - encontros da mãe com o filho - o fato já terá acontecido. não é nada muito novo, mas pode ser interessante não dizer o que é passado e o que não é.

acho que no momento da vida desta mãe, o tempo é um só, um bolo no qual coexistem o seu árduo presente com tudo o que cabe nele: suas memórias, dúvidas, reformulações, especulações. sua vida é, sobretudo, um espaço confuso onde verdades e certezas despencam e emergem com dolorosa vivacidade.

outra decisão determinante aconteceu hoje de forma plena. decidi começar a dar conta desse romance a partir do meio dele. a mãe narra tudo desde quando nasceu seu filho. e eu escolhi não abordar isso com precisão e detalhes. optei por dar atenção aos 6 anos finais na vida de seu filho até a tal quinta-feira que dinamita suas vidas.

assim, a peça começa a partir do exato momento em que esta mãe se questiona ao máximo sobre o seu lugar enquanto mãe. esta dramaturgia que estou tecendo começa a partir do preciso momento em que ela decide ter outro filho. em que ela decide trazer uma irmã ou irmão para o seu filho.

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Diogo Liberano