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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

do mito

O mito é o nada que é tudo. 
O mesmo sol que abre os céus 
É um mito brilhante e mudo - 
O corpo morto de Deus, 
Vivo e desnudo.



Este, que aqui aportou, 
Foi por não ser existindo. 
Sem existir nos bastou. 
Por não ter vindo foi vindo 
E nos criou.



Assim a lenda se escorre 
A entrar na realidade, 
E a fecundá-la decorre. 
Em baixo, a vida, metade 
De nada, morre.



Fernando Pessoa, Mensagem (1934)