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sábado, 28 de maio de 2011

Análise das Máquinas > 03/06

CAPÍTULO 1
AS MÁQUINAS DESEJANTES

O gozo e o sujeito

Máquina Celibatária. A terceira síntese: síntese conjuntiva ou produção de consumo. Afinal... <

A produção de registro é produzida pela produção de produção. A produção de consumo (produzida pela produção de registro e na produção de registro) segue ao registro. Há na superfície de inscrição algo da ordem de um sujeito que nasce e renasce dos estados que ele próprio consome: “Afinal sou eu, afinal pertenço-me...”.

Toda a produção desejante é imediatamente consumo e destruição, logo “volúpia”. Tal como parte da libido como energia de produção se transformou em energia de registro (Numen), há uma parte desta que se transforma em energia de consumo (Voluptas). Esta energia residual anima a terceira síntese do inconsciente: a produção de consumo ou síntese conjuntiva do “afinal...”.

A repulsão do corpo sem órgãos às máquinas desejantes, tal como na máquina paranóica do recalcamento originário, deu lugar a uma atração na máquina miraculante. Mas entre atração e repulsão a oposição persiste fazendo necessária nova máquina à reconciliação (ao “retorno do recalcado”). Freud sublinha a viragem de Schreber que após sua transformação em mulher envereda para uma auto-cura que o leva à identidade Natureza = Produção (produção de uma humanidade nova).

Chamemos “máquina celibatária” a que sucede à paranóica e à miraculante. Como nova aliança entre as máquinas desejantes e o corpo sem órgãos. O sujeito é produzido como resto, ao lado das máquinas desejantes, ou ele próprio se confunde com esta terceira máquina e com a reconciliação residual que ela opera: síntese conjuntiva de consumo, sob a forma maravilhosa de um “Afinal era isto!”. A máquina celibatária manifesta um poder solar, um prazer auto-erótico onde se celebra uma nova aliança como se o erotismo maquinal libertasse outros poderes ilimitados.

Matéria, ovo e intensidades: sinto <<

O que se produz através da máquina celibatária? Quantidades intensivas em estado puro a um ponto quase insuportável (numa experiência esquizofrênica). Fala-se de alucinações e delírio, mas o alucinatório (vejo, ouço) e o delirante (penso...) pressupõem um Sinto mais profundo.

Estas intensidades vêm da repulsão e atração e da sua oposição. São positivas a partir da intensidade = 0 (que designa o CSO), produzindo uma série de elementos intensivos que exprimem um número ilimitado de estados estacionários por que passa um sujeito. Essas quantidades preenchem a matéria sem vazio em graus diversos.

O CSO é um ovo atravessado por eixos e limiares, latitudes, longitudes, geodésicas r gradientes que marcam transformações, passagens e destinos do que nele se desenvolve. Nada nele é representativo, tudo é vida e vivido. Experiência dilacerante, demasiado comovente, que torna o esquizo o ser mais próximo de um centro intenso e vivo da matéria.

Como foi possível dar ao esquizo a figura desse estado de um CSO morto? O esquizo (que se instala nesse ponto insuportável em que o espírito toca a matéria, e vive, consome cada uma das suas intensidades) foi reduzido pela psicanálise a um neurótico que consome eternamente o papá-mamã.

Os nomes da história <<<

O consumo de intensidades puras é estranho às figuras familiares. Podemos dizer que sobre o CSO os pontos de disjunção formam círculos de convergência em torno das máquinas desejantes; então o sujeito (produzido como resíduo ao lado da máquina, apêndice ou peça adjacente à máquina) passa por todos os estados do círculo e de um círculo ao outro.

O próprio sujeito não está no centro, ocupado pela máquina, mas nos contornos, sem identidade fixa. Ou mais complexo: através da máquina paranóica e da máquina miraculante, as proporções de repulsão e de atração sobre o CSO produzem na máquina celibatária uma série de estados a partir de 0; e o sujeito nasce e renasce (o estado vivido é o primeiro em relação ao sujeito que o vive).

O sujeito, cujo eu desertou do centro, estende-se por todo o contorno do círculo. No centro a máquina celibatária (do desejo) do eterno retorno. Não a identificação com pessoas, mas a identificação dos nomes da história com zonas de intensidade sobre o CSO; e o sujeito grita sempre “Afinal sou eu!”. Nunca ninguém fez tanta história como o esquizo que consome de uma só vez a história universal. Começamos por defini-lo como Homo natura, e ei-lo, agora, Homo historia.

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Diogo Liberano