11 de agosto, Colégio Andrews, 20h/22h
Diogo, Andrêas, Laura, Márcio, Thaís, Virgínia, Dan e Adassa
COMPOSIÇÕES 01
> tema específico
> é um ponto de vista da sua personagem
> duração máxima de cinco minutos
> referências: três postagens (dos meses de janeiro, fevereiro e março de 2008)
CORLEY 01: "Os novos vizinhos"
dispositivos usados: remédio;
me chama atenção o uso das direções (ele pra frente, para um lado, para outro, de costas). o movimento em eixo que sugere um constante enrolar de si próprio. riso, choro, grito – medicação. para seguir fingindo ser possível isso que parece explícito ser quase impossível de tolerar.
o meu amor está fatigado. e o que eu faço: tomo um medicamento para encontrar nisso talvez algum entorpecimento, alguma anestesia, alguma solução. o meu amor está fatigado. sorriso forçado. pra onde ir?
EVA 01: "Acabei de ser nomeada Diretora da Escola Municipal Ensino Fundamental"
dispositivos: pequeno espelho, pequeno relógio, pequena tela (seria um televisor?), filme (THE BLACK SWAN), telegrama, cadeira, pequena mesa;
rugas, olhos, pescoço, as marcas, ainda estão por aqui?
o telegrama é entregue. obrigada. os olhos piscam muito. a respiração fica cada vez mais opressa. na carta, no telegrama, alguma frase de A LIMPEZA DAS HORAS. e também você acaba de ser nomeada…
ela se volta ao televisor. ela chora junto com o drama ali passando. como editar a duração da vida? ela desliga o televisor.
FRANKLIN 01: "Sobre tumores"
dispositivos: escuridão;
ele no canto da sala. retira a camisa. fica apenas de calça. é um improviso. não sabia meu nome. o que pode ter feito franklin falar sobre isso? que assunto é esse?
espanto, surpresa, orgulho, consternação? como você cresceu, filho. o pai aprova qualquer decisão do filho, qualquer coisa. ele é um oncologista, ele diz, desde criancinha quis ser isso e seu pai, já falecido, foi comido por um câncer.
a voz embarga. on-on-onco-oncologista. ele diz ao filho que ele tem liberdade para ser o que quiser. ele afirma sempre querer ter sido oncologista. a repetição ao invés de tornar a fala incontestável, só a torna ainda mais duvidosa.
ele gagueja. ela muda de assunto. ela fala a minha mulher é uma grande mestra. esboço dos horrores que estão por vir. às vezes eu sinto umas dores que se eu acreditasse em alma. diria ser uma dor em alma. a calça (elástica) estala sobre o corpo.
quais outros tumores existem soltos (e em proliferação) por ai?
KEVIN 01: “Eu tenho nove anos de idade”
dispositivos: pequeno bicho de pelúcia;
o andar de kevin. o olhar. o corpo imenso mas a alma de criança. alma encantável. cuja atenção ainda não foi expropriada. ele avança para ver se tá chovendo. é isso? estica as mãos, os olhos tateiam o céu.
de dentro deste corpo calmo e possível, saltam faíscas de curiosidades irrevogáveis. ele lambe a gota da chuva que não vemos cair. ele lambe a gota limpa a mão contra o peito e espia, brevemente, para ver se a sua ousadia possa ter virado encrenca.
ele chama a pelúcia, ainda ali quieta. paciente. imóvel. cristina, você me dá tanta coisa mas eu acho pouco. ainda assim eu acho pouco. mas, não desanima não, é só você me dar um pouco mais.
cristina, você me adula tanto que… mas não desanima, é só você me adular mais um pouquinho que ai fica gostoso. cristina, você é tão bonita, mas eu não te elogio, né, cristina? mas, não desanima não. é só você se enfeitar mais um pouquinho. uma vaidadezinha maior.
há um desânimo em kevin, apesar de seu corpo se esticar, se alongar, assumir as posições da sua impaciência. que que foi, cristina? fala o que você tá pensando. por um segundo ela na mão dele parece que vai falar. ele cola o ouvido no brinquedo e, de súbito, kevin fala como se fosse cristina.
eu sou assim e é desse assim que ele não gosta. CAFÉ AOS PEDAÇOS.
kevin desenha, com movimento e sonoplastia, o suicidar-se de cristina. que vai direta e reta ao chão (faz uma pausa no meio) e segue, quicando ao bater no chão, se ralando na parte final do percurso para, enfim, morrer.
MOIRA 01: "Os novos vizinhos"
dispositivos: lençol (ou toalha de mesa?), livro auto-ajuda, porta-retrato pai mãe e filho; bolsa florida de pano; luminária fria acesa; relógio, pipoca, lata de coca-cola zero, copo de vidro, binóculos;
moira deitada de barriga pra cima. a sua inspiração parece sugerir alguma gravidez que some ao se expirar. ela acorda de súbito, tinha dormido com o livro sobre a cabeça. moira ronca um pouco. parece ter dormido enquanto lia.
ao acordar, de súbito, retira da bolsa um binóculo. e passa a mirar o céu. estaria à procura do filho? erguida sobre a cama, mirando a janela? estaria sobre a mesa de jantar, persistente?
o barulho do lado de fora, sugere-se, atrai sua atenção. ela encosta-se à parede para escutar as crianças vizinhas. quase que se pode, via sua hesitação, sugerir que ela se pergunta são crianças, esses novos vizinhos?
fica feliz. tira a pipoca da bolsa. come. ri, quase levianamente. neste instante, em que ri e mastiga ao mesmo tempo, escrevo no caderno: ela é capaz de roubar uma criança. tira uma lata de coca zero, encosta-se mais à parede. comemora os vizinhos. curiosa, tira um copo de vidro e ausculta a parede inteira.
interrompe. volta a ler AINDA EXISTE ESPERANÇA, que pelo título parece ser algo de auto-ajuda, algo religioso. ela lê, em voz alta, sobre uma forma de encontrar a felicidade… seguindo as boas aventuranças de jesus…
moira se autosufoca com o livro na cara. o lençol sobre o chão resta mexido.
CÉLIA 01: "Eu sou irmã de Kevin"
dispositivos: papéis dobrados, fita crepe na parede, papéis escondidos nos bolsos;
arruma os cabelos, mãos calmas. “saúde” para o espirro fora da composição. célia é uma máquina desejante? ofegante. lê um poema, da rita pedreira. célia muda da água pro vinho, do oito ao oitenta. eu sou irmã do kevin. desenhos feitos em pedaços de papel já usados. rascunhos. traços fortes e a cor comendo solta. muita cor. muito sangue do olho saindo.
laura pergunta sobre o desenho: ela chora sangue?
pirraça maior do mundo: sumam todos daqui! bate os pés no chão. tenho a sensação de que as articulações do corpo todas se gastaram em um único segundo. muita força contra o chão. muito atrito. célia é insuportavelmente irredutível.
ada disse à pergunta de laura: é o olho.
o olho de célia é uma torrente e não uma peça sólida. ele escorre pelas coisas, ele pertence ao mundo.
COMPOSIÇÕES 02
> tema específico
> é um ponto de vista da sua personagem
> duração máxima de cinco minutos
> referências: suas três postagens (dos meses de abril, maio e junho de 2008)
KEVIN 02: "De súbito, de uma hora para outra, de repente..."
dispositivos: meia listrada vermelha, camisa listrada vermelha, bermuda preta,c adeira, mesa, jornal, banana, toddynho, canudinho do toddy;
acabou de acordar. mão no rosto. muchochos. kevin é calmo, paciente, lê jornal. cresce o interesse. com calma e atenção. horóscopo. ele lê escorpião. cada palavra parece nascer ali na nossa frente. as que ele não sabe, ela guarda ainda sim com ele. e ter diplomacia para não gerar conflitos. ele rasga com calma o horóscopo de escorpião, molha com toddy e cola à testa.
seu olhar por vezes busca para ver se há alguém espiando a sua brincadeira. ação de criança é sempre brincadeira? é sempre jogo? vejo um corpo sem órgãos. menos máquina desejante, neste momento.
de súbito, de repente, de uma hora pra outra, engole a banana toda – com casca – para dentro da própria boca. e como se tivesse uma manivela do lado esquerda da cabeça, ele vai girando-a e da boca dele vai saindo e caindo sobre o jornal na mesa o que restou da banana destruída.
ele se limpa. é asseado. ele enrola toda a sujeira dentro do jornal e grita já acabei. e volta a tomar o toddy.
LEITURA DO PROJETO
o projeto é uma busca de todos nós, peças dessa criação. não é só um roteiro que o diretor procura seguir, é também espaço no qual muitos pontos já estão dados, esperando por corpo e encaminhamento. sobretudo no tópico OBJETIVOS, sobretudo em se falando de METODOLOGIA (criação da dramaturgia e da cena): tudo isso é preciso que seja comprado desde já.
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