12 de agosto, Colégrio Andrews, 20h/22h
Adassa, Diogo, Thaís, Dan, Andrêas, Márcio, Virgínia e Laura
> tema específico
> é um ponto de vista da sua personagem
> duração máxima de cinco minutos
> referências: suas três postagens (dos meses de abril, maio e junho de 2008)
CÉLIA 02
dispositivos: tamborete pequeno, colar, cachecol preto, meias pretas, papel, ziploc com tangerinas peladinhas, casaco preto;
célia guarda coisas no corpo, papéis.
ela arruma cada uma das coisas que dispôs no chão. tudo tem cores pretas. quase tudo. ela coloca o bolerinho preto, depois o colar (gigante), ela se enrola num lenço preto. ela está se divertindo, sóbria, com tal jogo. ela coloca uma meia, ela coloca a outra. as meias, na verdade, são azul-marinho. a criança sabe que tem gente a assistindo. não tem quarta-parede quando é com as crianças?
ela segura o ziploc com a boca enquanto arruma o cabelo. tira um elástico do pulso. e começa a correr alegremente enquanto mastiga tangerinas, muita empolgada, engasga um pouco, dança, canta, não se entende, é uma lista, o que é?, ela tosse, quase engasga, quer dizer algo.
abre a porta e grita algo pra fora
bacon não, porque agora eu sou vegetariana. na movimentação frenética pelo espaço encontra um tamborete pequeno, de kevin, e sai correndo gritando kevin, para entregar ao irmão, ou para brigar com o irmão. já fora da sala, deixando a porta aberta, célia grita. grita muito. grito de dor. horror. pavor. aconteceu alguma coisa.
ela volta chorando, com uma venda preta nos olhos. chorando muito. soluçando. grita, enquanto move as mãos na altura dos olhos. como se tentasse ver e percebesse não haver mais essa possibilidade. desespero total. duração. a composição demora a acabar. como lidar com essa dor, com esse tipo de acontecimento, sem fazer dele videoclipe?
CORLEY 02
corley rodeia o semi-círculo, como um cachorro, de quatro. de costas, se vira, mirando laura, no semi-círculo, se aproxima lento com a mão erguida. ele nos dá aquilo que parecem ser indicações:
quando atravessar a rua, tome cuidado, os carros hoje em dia correm…
o sinaleiro, fica mais leve quando venta…
uso das postagens. eu gosto de sair com você pelas ruas, gosto de roçar o braço no seu casaco. é lã, é bom e aquece. nesses dias faz tanto frio. deve ser por isso que eu quero tanto te dar um abraço.
abraça a mão, de costas para laura. ele está falando do casamento. dá uma cambalhota, se recolhe no canto. deita. com a barriga pra cima, como se tivesse bêbado.
é o que eu digo. falo pro meu filho seja isso ai mesmo que tu quer ser, cara, até porque essas crianças inventam cada coisa que se eu for parar pra ficar pesquisando se é certo ou errado. é o que é. simples, não é? é que se me deixar eu esqueço de me lembrar que há amor entre dois amantes. não posso.
por que corley fala tanto “não posso”? tenha a sensação de que ele havia falado isso na composição primeira. especular.
EVA 02
franklin aguarda sentado numa cadeira. eva abre a porta. oi, tô interrompendo? só pra vc escutar, me fala o que vc pensa. imagina as crianças todas aqui na minha frente, tá bom? depois vc me fala o que vc pensa, tá bom?
é um bom jogo metalinguístico. para inserir o público e logo em seguida, tendo-o usado, supor que as personagens não estivessem de fato percebendo o público ali.
bom dia a todos, é uma alegria enorme estar aqui. eu sou miss eva e a partir de hoje eu sou a nova diretora de vocês. chegar a esse posto com 35 anos é algo… nesse desafio, eu não tô sozinha… célia, aquela menina de cordãozinho. kevin, o menino mais obstinado. e franklin, meu marido, frank, meu companheiro de todas as horas… EVA É QUASE DEMAGÓGICA. É? quando eu vejo o rosto de tantos jovens cheios de alegria… sim, eu já tive a idade de vocês… esse lugar que pode ser acolhedor e tão hostil, não é mesmo? eu gostaria de dizer que vcs não estão sozinhos… e eu acredito que juntos não temos nada a temer. obrigada mais uma vez por tornar esse sonho realidade.
por que é que tenho a sensação de que o casamento de franklin e eva também está em crise? rever essa possibilidade. não acho que precise ser. mas, é seguir escrevendo possibilidades.
FRANKLIN 02
dispositivo: cadeira, paletó verde, eva, papéis;
quadrado cênico cujas arestas somos nós.
eva está sentada numa cadeira, na qual resta o casaco.
quando eu… isso aconteceu umas vezes comigo. hoje não acontece muito. aconteceu muitas vezes, de eu estar dormindo e acordar meio dançando. um movimento meio espiralado. a pessoa dormindo. eu chamo de dança, né? de repente eu tô até fazendo mais, mas sempre como se eu estivesse dançando. ai a dança acaba e vira só aquela sonolência. aquele acordar mesmo.
ele no chão desenha com o corpo a coisa de estar dormindo e acordar dançando. é muito curioso que o pai de kevin acorde querendo dançar. talvez agora se perceba algo que seja genético. enfim, não sei.
temática dor desespero. tem uma postagem no mês de julho no lendo árvores que é “temática do desespero”. será que foi antecipada? ou já havia sido dita em composições anteriores?
senta no chão para colocar os tênis.
eu amo tanto os meus filhos que viveria eu e eles apenas. o mundo nos dá morada. do mundo retiro aquilo que me alimenta. amo tanto os meus filhos. que viveria eu e eles apenas. o mundo nos dá morada e do mundo retiro aquilo que me alimenta. amo tanto…
ele simula um abraço em eva, mas era só para pegar o casaco que resta na cadeira, atrás dela. ele agora de casaco, mexendo em papéis. tosse quase sem fim. é o ator ou a personagem?
temática dor desespero. novamente, duvido.
assiste ai, a gente fuma uma cigarrete, a gente toma uma parada de café, ah?
eu tô desempregado, você me emprega, oncologia, medicia na fuc, depois me especializei em oncologia cerebral apostólica romana. eu tô desempregado você me emprega? assiste ai, me convide pra passear, a gente fuma uma cigarrete…
o meu coração está partido em quatro partes. de dentro parte uma mangueira uma aorta que leva e traz desassossego.
querida, hoje foi um dia difícil, mas amanhã talvez eu possa encontrar… tem um primo meu que tem um posto de gasolina. talvez nesses primeiros momentos. vou dormir.
e, então, franklin dança. é curioso. é curioso. seguir desbravando.
MOIRA 02
dispositivos: bolsa, aparelho de som, vários porta-velas distintos, caixa de fósforo, caixa com incenso, porta-retrato com pai mãe e filho, vestido florido, uma plantinha de mentira também já usada, batom;
ela entra feliz e saculejante. deixa a bolsa. deixa o som. deixa a flor falsa. liga o som, tudo muito rapidinho. meio que dança. da bolsa, tira porta-vela, depois outro porta vela, depois outro. tem dúviidas sobre o posicinamento. mais uma vela. caixa de fósforo, incenso. a foto da mãe com o pai e com o filho.
cantarola durante todo o tempo. o jeito de encostar a bolsa na parede. aqui reside o jogo da duração. ela foi com tudo e parou de brusco, imprimindo à ação um gráfico imprevisto. que captura a nossa atenção e surpreende.
batom, passa batom, perfume. cantarola ainda quando passa o batom. passa batom nas bochechas e se estapeia levemente. acende uma vela, depois outra. troca o fósforo, acende mais uma.
ah!!! comemora quase silenciosa, é o incenso. passa o incenso por todo o espaço, meio descontrolada, quase dança
moira cheguei, ouve-se andrêas dizer
amor, espera ai um pouquinho.
fala tudo gemendo. isso é muito bom. moira geme de pavor ou desejo? ansiedade total. cara de sapeca enquanto seduz, ou tenta, o marido. dança quase sobre as velas. ela é daquelas que poderia pôr fogo na casa inteira só com velas de aniversário.
dança, dança e descobre que o marido não a tinha visto. ruína total.
JOGO DO CINTO DE SEGURANÇA
aqui se anuncia uma primeira tentativa de negociação invisível. ressalto que o objetivo não é rir. não é se divertir. como jogar o jogo ciente de que as regras são o caminho? como seguir o jogo confiante nos limites e dentro deles se jogando? apesar de a cena sugerir ser um lugar de divertimento, expansão, tranquilidade… não se trata disso neste projeto. a matemática, a precisão, precisam ser levadas à risca.
o jogo acontece pleno quando nenhum de vocês consegue se erguer, nem sequer se mover. é treinamento de escuta. de olhar periférico. de soft focus.
seguir tentando.
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