Kevin olha pela janela e vê que chove. Põe a mão pra fora, depois lambe a água e se certifica de que ninguém viu. Chateado com a chuva, se agacha ao lado da girafinha e diz:
- Cristina, você me dá tanta coisa, mas eu acho pouco. Eu gosto, fico agradecido mas acho pouco. Mas não desanima, não. Basta me dar mais um pouquino. Uma prenda que você me dê de coração...
Olha de novo o céu, se senta chateado e continua:
- Cristina, você me adula tanto, mas eu acho pouco. Eu gosto, até tiro proveito, mas eu acho pouco. Mas não desanima, não. Basta me adular mais um pouquinho que aí vai ficar gostoso.
Olha o céu mais uma vez, joga o corpo todo pra trás, resmungando, senta com a cabeça deitada no joelho e continua:
- Cristina, você é tão bonita e eu não te elogio. Eu até fico te olhando, fico todo orgulhoso, mas não te elogio, né, Cristina? Mas não desanima, não. Basta se enfeitar mais um pouquinho, uma mudada no cabelo, uma vaidadezinha a mais.
Olha o céu e, chateado, esconde a cabeça no chão.
- Cristina, quê que foi? Quê que foi, Cristina? Quê que você tá pensando? Fala, Cristina, agora, o que você está pensandooooo?
Pega a girafinha, se levanta.
-Para, Cristina! Para de pensar essas coisas! Para de ser dramática, Cristina, a vida não é assim. Quê que você tá pensando?
Fala como se fosse a girafa respondendo:
- Eu sou assim. Não há outro assim. É assim que eu sou e é desse jeito que ele não gosta.
Simula um suicídio da girafa, ela pulando de um precipício, faz os sons da queda, os gritos. Depois para, olha de novo o céu e se aborrece novamente.