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sábado, 20 de agosto de 2011

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19 de agosto, Sala Vianinha, 20h10/22h
Diogo, Thaís, Márcio, Adassa, Virgínia, Andrêas, Laura, Dan, Isadhora e Leandro

ensaio na sala onde será a nossa estreia. pisa de madeira estranha. corrida. mas velha e por vezes excessivamente barulhenta.

PANO.

CINTO DE SEGURANÇA.
[ANDRÊAS+ADASSA+VIRGÍNIA+LAURA+MÁRCIO+DAN]

eles começam quentes. os cabelos de moira mexidos. os homens com a camisa meio que desordenadas. algum cansaço pleno, ali, neles, existindo. as mãos sobre as pernas. com uma ou outro exceção. qual é a nossa proporção?

adassa parece cansada. andrêas conserva as mãos coladas. eu fico me perguntando quando vai ser que a coisa vai rolar com um espaço maior entre as cadeiras.

ANDAMENT_UM

regras confusas. uma ou duas cadeiras? não entendo. eu também não. enfim, é tentar de novo. o grupo sentado precisa perceber sua unicidade. não é tão simples assim. não mesmo. escuta, atenção, como render a si próprio certo de que o outro se renderá por você?

COMPOSIÇÕES

CÉLIA 04 – “Aqui tem muito cachorro e mendigo de rua”

papéis no chão. papéis brancos, aparentemente, com coisas escritas. fita crepe. não olhem pra trás por favor. ouve-se uma correria. célia corre, parece. ouve-se barulho de algo plástico. célia entra em cena com um avental vermelho, de plástico. pára. volta a correr. tem as mãos no bolso central do avental. tira do avental uma caneta pilot marrom e escreve no braço, enquanto olha para algo que ligeiramente a assusta. ela corre e se distancia. ela desenha no corpo alguma coisa que observa. aflita. ela corre de novo. ela corre mais e vai se rabiscando.

ela pára, rabisca a testa. e volta a correr. ela sobe numa cadeira e desenha nas bochechas alguma coisa. ela passa por sobre os papéis e tem a atenção tragada. ela pega um dos papéis e olha pro céu.

meio-dia. olha pro céu e empunha a caneta. ela abandona o papel e pega outro. nove doze. meio que chora. ela tira do avental e joga pro alto pedaços coloridos de papel celofane. ela pega a fita crepe e faz uma reta. ela choraminga. ela escreve numa ponta da fita: 09h12. e na outra meio-dia.

temperatura da janela: indescritível.

o olho está pensando louco. desenha uma bola ao redor do olho. para cada papel lido um pedaço de pano ou celofane somado. ela está brincando de casinha? ela está se divertindo e se emociona com a descoberta de cada coisa. não faz sentido? pra ela faz. como pode se emocionar? se pudesse dizer tudo com palavras? que palavras diria? por que eu sinto a necessidade de explicar o inexplicável.

CORLEY 04 - “Agora sim o presente mais especial de todos”

coloca os atores em roda. no centro. uma colagem de papéis. marca o relógio. distribui cadeiras pelo espaço e posiciona cada um dos personagens. eva fica de frente para quatro cadeiras vizinhas, sentada numa cadeira. franklin sozinho em uma cadeira bebe coca-cola. moira fica sobre uma espécie de altar, uma escada: ele diz pra ela eu posso falar com você, mas é difícil comunicar alguma coisa. as crianças cortam e recortam revistas. frenéticas, enquanto corley se contorce lentamente sobre uma cadeira.

corley conta o tempo. tio corley arrasa. dá revistas e tesoura pras crianças. enche dois copos de coca. três copos de coca. ele prepara tudo. as crianças seguram o cartaz de costas. ele puxa a esposa até o centro e faz uma apresentação escrotamente maravilhosa.

EVA 04 – “Demorou mas chegou. Fui elogiadíssima na reunião de departamento”

Chega em casa. Óculos. Bolsa. Tira o casaco. Chama por Frank. Nada. Senta-se. Se surprende a si mesma. Vai até o som. Dá o play. Vira-se e começa a pular. Risada. Mãos na cabeça. No rosto. Ruídos. Gemidos. Choro. Pés batendo-se no chão. Senta-se. Chora. Levanta-se. Volta a pular. Está sozinha dentro de casa. Sugere solidão e satisfação. Quase um desespero. Felling good, Nina Simone.

A música acaba. Frank, ela sai gritando pela porta.

FRANKLIN 04 - “Fato: ele foi comido por um câncer”

Cadeira no meio da escuridão.

Uma dor me corrói por dentro
E me destrói e me desconcentra

Essa dor me faz ver tudo através
de uma crua nitidez
A dor me faz ver o que fiz
naquilo que toquei
Eu tenho direito à dor

Apanhando o alicate e arrancando
os dentes

De quem diz morrer feliz

Ele ao fundo da sala falava isso tudo. Depois a luz se apaga e ele cruza o escuro. Ele se senta e diz,

Eu definitivamente não gostava dele. É difícil isso pra mim porque era pra eu gostar. Eu me sinto um pouco a gostar. Mas eu não gosto e não gostava. Quando criança eu tinha vontade de criar histórias pra dormir. E aquilo parecia me estranho pra ele. E ele vinha e às vezes deitava o corpo sobre o meu com um hálito estranho e me perguntava o que eu fazia. Eu tenho a sensação de que ele sempre me machucou quando a princípio a função seria a de me proteger. Eu não gosto dele. Não gostava e hoje ainda não gosto. Outro dia no meu delírio. Num dos meus delírios eu imaginei que eu pudesse tê-lo matado. Ou que eu pudesse não ter dado o diagnóstico correto. Eu sei que não foi isso, mas no íntimo eu talvez pudesse ter querido matá-lo. Eu sei que não foi isso, mas pode ser que realmente eu o tenha matado.

Lança a cadeira para longe. Começa a faltar ar. Tosse. É o pai morrendo? Ouve-se ele. Não me contemplem. Não vejam essa abissal transformação. Ele se choca contra o chão gritos batidas tosse engasgo é um macaco sufocamente batidas gritos franklin corre e lança seu corpo não contemplem-me não me contemplem não vejam essa abissal transformação batida na madeira, tosse, grito, gemido, dor, batidas choro tremor da voz grito. Ele se desnuda, aos fritos, se batendo. ele pede que não o contemplem, ele está nu. ele se choca contra o chão. o que acontece com franklin, ele se levanta, respiração opressa.

meu pai do céu está doendo demais.

Essa dor é só minha e de mais ninguém.

Estou voltando. Aos poucos, estou voltando. Volto a conta-gotas. Essa dor é só minha e de mais ninguém. É dor de caminho, de contorno, de processo. A minha volta é minha vida se condensando pra tornar-se mais desperta. Mais pura e sincera.

KEVIN 04 - “Quando eu decidi ser música, as coisas lá em casa meio que começaram a dar problema”

kevin traz célia até o espaço. ela tá de olhos fechados. ivocê só pode abrir os olhos… deculpa. você só pode abrir o olho quando eu mandar.

esse aqui não é o meu quarto. esse aqui é o salão principal do casarão. essa aqui não é a porta do quarto. esse aqui é o portal do tempo. quando a gente tá aqui o tempo é completamente diferente. nem computador tem. o chão é cheio de tapete. até a sacada central. lá o pai e a mãe ficam acenando pors vizinhos e pros admiradores.

ele leva célia até a ponta.

o pai é um médico famoso. o avô tá vivo e a mãe faz cada discurso lindo. e nem precisa tomar remédio pra ficar tranquila. ele posiciona as cadeiras no platô. e a gente fica aqui sentado a noite inteira. é chato. mas elas querem conversar com a gente.

cê viu o pai chorando? célia mexe com a cabeça.

e a mãe?´célia responde tá esquisita.

cê acha que a culpa é minha? célia diz que não com a cabeça.

kevin diz nem eu. célia! a dança dos irmãos!

cristina! música!!

MOIRA 04 - “Zelda e Kevin. São esses os nomes dos anjinhos?”

Era uma casa muito engraçada… Moira vem cantando atrás de todos. Não tinha teto, não tinha teto, não tinha teto… Fiquei pensando nisso. E depois as balas. Moira seduzindo Kevin. E Kevin sempre duvidante. Moira grita deita aqui!!! Batendo em sua própria perna.

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